Entrevista No mercado de startups, as 'ideias se tornaram comódites', afirma economista Em passagem pelo Brasil, a empresária Victoria Silchenko debate sobre as tendências e os investimentos que esse tipo de empresa busca

Por: Mariana Fabrício - Diario de Pernambuco

Publicado em: 26/07/2016 09:22 Atualizado em: 26/07/2016 10:12

Em palestra na Jump, aceleradora do Porto Digital, Silchenko reforçou que o Brasil precisa investir mais nos empreendedores.
Foto: Mariana Fabrício/DP.
Em palestra na Jump, aceleradora do Porto Digital, Silchenko reforçou que o Brasil precisa investir mais nos empreendedores. Foto: Mariana Fabrício/DP.
A indústria criativa brasileira gera um Produto Interno Bruto equivalente a R$ 126 bilhões, segundo mapeamento da Federação das Indústrias. O número dessas empresas inovadoras que são projetadas para crescer rapidamente, as startups, já ultrapassa dos 4 mil, de acordo com a Associação Brasileira de Startups. E um dos principais motores para que essas companhias se consolidem no mercado é o investimento. Pensando no ecossistema mundial de inovação, a economista, fundadora do Metrópole Capital Group e professora de Financiamento Empreendedor no MBA da California Lutheran University, Victoria Silchenko chega ao Recife para debater o tema. Na noite desta segunda feira a especialista palestrou sobre "Tendências do Mercado de Capital de Risco nos EUA", na Jump Brasil. Nesta terça-feira, às 18h30, ela comanda um bate-papo sobre "Empoderamento Feminino e Investimento", no Nós Coworking e na quarta-feira conversa sobre "Como empresas brasileiras podem aproveitar o capital americano", às 17h, no Auditório do Cesar.

Entrevista

Diario de Pernambuco: Entre as empresas mais bem avaliadas e as que mais recebem investimentos no mundo estão as startups. É possível considerar o surgimento de uma cultura de valorização ao empreendedorismo, antes visto como desconfiança?
Victoria Silchenko: Posso afirmar que essa é uma tendência a nível global. Os motivos para esse aumento é que atravessamos o período mais longo de taxas de juros baixas e também os investidores estão bastante otimistas. Quase todas essas empresas que estão valorizadas no dia seguinte já se tornam empresas globais. O que significa que o potencial de mercado é ilimitado. No entanto, acredito que o padrão de empreendedor no futuro será aquele que gera emprego para as pessoas. Atualmente estão fazendo empregos apenas para si mesmos, mas no futuro será necessário vender suas próprias habilidades. Nossos heróis serão aqueles que oferecem mais oportunidades porque no futuro teremos dificuldades na criação dessas vagas.

DP: Então essa tendência ameaça, de certa forma, o emprego tradicional, considerado mais sólido?
VS: A tecnologia está eliminando empregos tanto na categoria mais baixa, como na mais alta. Uma empresa dos Estados Unidos de inteligência artificial desenvolveu o software para área jurídica que substitui 40 funcionários. São os primeiros advogados robóticos. Por isso a tecnologia está ameaçando empregos dos mais altos níveis. O que me anima é perceber que existem pessoas capacitadas e que se empenham em criar empregos para si mesmas e para outras pessoas. E o mais animador é que 40% é de presença feminina empreendendo.

DP: Ainda assim é uma minoria. Qual a maior barreira? Por que as empresas lideradas por mulheres tem mais dificuldade de conseguir financiamento de capitais de risco?
VS: Temos que levar em consideração que o modelo de capital de risco está ligado a negócios de alta tecnologia. Enquanto que as mulheres tendem a escolher negócios mais voltados à economia criativa, como moda, design, publicidade. Então a questão é que não necessariamente essas empresas são do interesse dos investidores. A escolha não passa por elas serem ou não comandadas por mulheres. Mas esse modelo está mudando para se adaptar a todo tipo de negócio. A economia digital tem aberto as portas para vários tipos de empresas da qual as mulheres escolhem trabalhar. Estatísticas mostram que atualmente empresas comandadas por mulheres recebe de 4 a 6% do capital de risco.

DP: E o que é necessário para garantir esse investimento então?
VS: Hoje as startups são muito valorizadas e apresentam altas projeções de receitas futuras.  Nos EUA surge um movimento dos chamados "unicórnios", empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão. O modelo de capital de risco precisa identificar maior habilidade e alto nível de capacitação para apostar nessas marcas. Nem todos tem esse tipo de ambição, independente de serem homens ou mulheres. Não é pelo fato de que você está iniciando um novo negócio que vai conquistar o mundo.

DP: Uma forte característica das startup é se lançar no mercado uma ideia inovadora que pode valer bilhões ou simplesmente dar errado. Como essa empresa deve reagir à instabilidade para conseguir crescer?
VS: Atualmente 55 milhões de pessoas trabalham por conta própria nos Estados Unidos. Isso representa um quarto da força de trabalho do país. E é esse grupo de pessoas que detém o maior potencial para ser inovador. Estamos próximos de uma era em que grande parte dos empresários comandam as pequenas empresas. Então deve haver um ótimo entendimento entre empresas e governos para chegar a políticas necessárias para esse tipo de empreendimento. Nos EUA apenas 5% das empresas geram receitas a cima de 1 milhão de dólares. Isso desperta o mercado financeiro a prestar mais atenção nessas pequenas empresas e não apenas nas grandes corporações.

DP: Aqui no Recife temos um ecossistema de inovação, iniciativa como o Porto Digital é um exemplo. Como os empreendedores daqui podem buscar investimento de fora? Existe um momento certo para dar esse passo?
VS: O Brasil ainda tem que tomar algumas medidas para investir em startups, principalmente na fase inicial. O mercado está construído para grandes empresas, já sólidas. Mas pode haver mais investimento Federal, por exemplo, em pequenas empresas. De modo geral os investidores de capital de risco gostam de ver empresas que já estejam situadas nos Estados Unidos e que já levantaram um capital inicial de US$ 300 a 500 mil. Já ter mais de uma ano e pelo menos uma equipe de vendas baseada lá fora, que consiga implementar o plano de marketing. O pensamento de quem vai investir é priorizar uma equipe 'classe A' com uma ideia 'classe B' do que o contrário. As ideias já se tornaram comódites.


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