OBSERVATÓRIO ECONÔMICO Podemos ter o melhor de todos os mundos?

Publicado em: 12/06/2016 08:00 Atualizado em: 10/06/2016 20:54

Por Fernando Dias (*)

Fernando Dias é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
Fernando Dias é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
Nos países com generosas políticas sociais geralmente existe alguma atividade, tipicamente de exportação, que sustenta boa parte da economia e ainda gera grandes excedentes que comumente vão parar em algum fundo soberano.


As economias onde prevalece o bem-estar sócia como as da Escandinávia são sempre referência, notadamente para as mais pobres, sobre quais serviços e direitos o Estado deve conceder a sua população. Contudo, economias onde prevalecem fortes políticas sociais e ainda apresentam elevado grau de desenvolvimento são reduzidas no globo e contam, em geral, com algumas características pouco comuns. Podem todas as demais economias perseguirem as mesmas políticas? Se o fizerem necessariamente se tornarão similares a estas tanto em igualdade quanto em desenvolvimento?

Infelizmente, a evidência e a teoria econômica apontam para uma resposta negativa. Empiricamente países que se engajaram em pesadas políticas sociais a la Escandinávia, como a Venezuela por exemplo, lograram enorme fracasso. Um ponto bastante visível é que nestes países, com generosas políticas sociais, geralmente existe alguma atividade, tipicamente de exportação, que sustenta boa parte da economia e ainda gera grandes excedentes que comumente vão parar em algum fundo soberano. O petróleo é, por exemplo, um dos elementos chave para explicar a viabilidade financeira de tais políticas, indo da Escandinávia até o Golfo Pérsico. Nestes países, a organização da atividade econômica apresenta elementos socialistas para dentro, enquanto são aguerridos monopolistas nas relações para fora. Como pouquíssimas economias apresentam esta característica, quase um clube fechado entre exportadores de petróleo e paraísos financeiros, também quase nenhuma economia consegue viabilizar amplas políticas sociais que se voltam para um estado de bem- estar social.

Vendo a questão pela ótica puramente teórica, também os resultados são poucos animadores. A grande maioria dos estudos sugere que mesmo se no ponto inicial temos sociedades completamente iguais, o resultado final serão sociedades desiguais e para isto a simples introdução de diferencial de produtividade e possibilidade de acumular ganhos já é suficiente. Em textos recentes temos que mesmo quando se introduz instituições para contrabalancear estes efeitos o resultado é que alguns países escolhem uma linha mais similar ao capitalismo puro, enquanto outros mais próximas ao capitalismo “soft”, onde os primeiros lideram e os segundos não sobrevivem sem os primeiros.

Teoria e evidências se unem para sugerir que a busca por proteção social precisa ser muito bem ponderada, particularmente em países pobres ou em desenvolvimento. Colocar como meta coberturas tais como as encontradas em países com peculiaridades de ordem sócio-econômica não é indicado e pode até ser contraproducente, pois ao elevar o tamanho do Estado e reduzir os incentivos dos agentes privados termina-se por reduzir o próprio potencial de crescimento e, consequentemente, a capacidade de financiar as próprias políticas sociais. Da mesma forma que existem evidências de que a busca desenfreada pelo Estado mínimo pode incrementar desigualdade, sem necessariamente implicar em crescimento, existem muito mais evidências que a busca pelo Estado máximo leva tão somente a falência do mesmo, a pobreza e a uma pseudo-igualdade onde na verdade quase todos são pobres.

(*) Professor do Departamento de Economia da UFPE.

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