Observatório econômico Parecem franquias

Publicado em: 19/06/2016 08:00 Atualizado em: 17/06/2016 20:55

Por Alexandre Jatobá (*)

Alexandre Jatobá é economista e diretor da Datamétrica. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Alexandre Jatobá é economista e diretor da Datamétrica. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Observando setorialmente as atividades do comércio, chamam a atenção os recuos expressivos do comércio de combustíveis e lubrificantes e de materiais de construção, mostrando o famoso “círculo vicioso” da recessão econômica, isto é, essas atividades são mais fortemente atingidas em função da retração das outras atividades e esse processo vai piorando cada vez mais ao longo do tempo.


Nos últimos meses, andando nos grandes centros urbanos do país, impressiona a quantidade de imóveis com as placas “Aluga-se” ou “Repasso o ponto”. A cada dia que se passa, percebemos que estabelecimentos comerciais e de serviços fecham de uma hora para outra, inclusive alguns mais antigos e tradicionais, e até mesmo nos shopping centers. Parece até que temos duas novas franquias de sucesso no país, a “Aluga-se” e a “Repasso o ponto”.

Ao longo desta semana, foram divulgados os resultados de duas pesquisas do IBGE que corroboram com o cenário acima, as pesquisas mensais do Comércio e de Serviços. De acordo com a primeira, o volume de vendas do chamado comércio varejista ampliado caiu espantosos 9,1% entre abril de 2015 e abril de 2016 e a receita nominal do setor caiu 0,4%. Observando setorialmente as atividades do comércio, chamam a atenção os recuos expressivos do comércio de combustíveis e lubrificantes (-10,8%) e de materiais de construção (-13,8%), mostrando o famoso “círculo vicioso” da recessão econômica, isto é, essas atividades são mais fortemente atingidas em função da retração das outras atividades e esse processo vai piorando cada vez mais ao longo do tempo. Em termos regionais, apenas em Roraima, não houve retração no volume, tendo um crescimento “espetacular” de 0,1%. No Nordeste, os destaques negativos ficaram para Pernambuco, Sergipe e Bahia cuja retração no setor foi superior a 10 pontos percentuais. O melhor resultado do Nordeste é o da Paraíba, onde a retração foi de “apenas” 2,1%.

A pesquisa mensal de serviços de abril também mostra o mesmo quadro desolador. Comparado a abril de 2015, o volume de serviços de abril deste ano recuou 4,5% com a receita nominal crescendo apenas 0,4%. Aqui os serviços mais ligados as outras atividades econômicas também foram os que mais sofreram, a saber, os serviços profissionais, administrativos e complementares (-5,4%) e serviços de transporte (-6,5%) – este último com os serviços de transportes terrestres caindo 8,8% no mesmo período. Regionalmente, apenas três estados apresentaram crescimento, Roraima, Rondônia e Tocantins. Em nossa região, apenas Alagoas e Ceará tiveram retração menor do que a média nacional (-1,9% ambos), no Piauí a queda foi de 5,2% e nos demais estados da região, as quedas foram superiores a 8,0%.

Os setores de comércio e serviços respondem por mais da metade do PIB brasileiro e são atividades intensivas em mão-de-obra, o que torna o quadro acima ainda mais grave e preocupante. De acordo com dados da CAGED/IBGE, nestes dois setores foram fechadas nada menos do que 770 mil vagas formais de emprego no país entre abril/2015 e abril/2016, sendo 128 mil destas vagas na Região Nordeste. Muito tem se falado das ações e reformas necessárias para a economia se recuperar, mas, parece que boa parte dos nossos políticos ainda não enxergaram que já passou da hora de passarmos do discurso para a ação.

(*) Economista e diretor da Datamétrica.

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