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Observatório econômico Escolha ou incompetência

Publicado em: 16/06/2016 08:00 Atualizado em: 15/06/2016 19:46

Por André Magalhães (*)

André Magalhães é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
André Magalhães é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
O governo deixou em frangalhos uma das maiores empresas de petróleo do mundo, investiu errado, via BNDES, e enfraqueceu os dois bancos estatais. Mais, ao fazer as famosas pedalas, o Governo se permitiu gastar mais do que podia, mais do que tinha. Gastos descontrolados e crédito artificialmente baixo para os consumidores levaram à inflação, que nos últimos anos foi tratada com complacência.


Em conversas recentes com amigos eu tenho notado pelo menos duas perguntas recorrentes: por que os economistas, ou uma grande parte deles, tem dito que o Governo Dilma acabou com as estruturas do Estado e foi responsável pela crise? Será que foi incompetência? Eu acredito que são perguntas muito importantes. Eu imaginaria que seria fácil de responder, mas talvez não seja. Eu gostaria, pelo menos, de tentar uma explicação.

Vamos à primeira parte. O Governo Dilma resolveu que o Estado deveria definir sozinho os destinos do País. O Governo entendeu que as estruturas do Estado estavam ao seu serviço. Deixando a corrupção de lado, o Governo anterior usou essa lógica para determinar o comportamento dos seus bancos e estatais. A Presidente resolveu que a taxa de juros deveria baixar. Para tal, ordenou que os dois bancos estatais reduzissem as suas taxas, gerando perdas financeiras e aumentando os riscos para essas instituições. Não satisfeita, a presidente afastada usou essas instituições como cheque especial, tomando dinheiro emprestado de forma forçada, fazendo os dois bancos assumirem os gastos das políticas que deveriam ser do Governo (as famosas pedaladas). No momento, os dois bancos enfrentam problemas de caixa e especula-se que precisarão de aporte financeiro do Tesouro.

Através do BNDES, o governo anterior resolveu distribuir recursos subsidiados a grupos escolhidos, os pretensos campeões nacionais. O Tesouro pegou dinheiro caro, a mais de 10% ao ano, e passou para que o BNDES emprestasse a juros inferiores a 5% ao ano. Os campeões não eram não tão bons assim. Além disso, alguém tem que pagar a diferença dos juros. Quem ficou com a conta? Nós, que pagamos impostos, é claro.

Na Petrobrás a coisa foi muito pior. Além da corrupção, a Estatal fez escolhas desastrosas, como em Pasadena, e foi usada para segurar a inflação, sendo obrigada a praticar preços abaixo do mercado internacional, o que, evidentemente, gerou prejuízos. A empresa hoje enfrenta uma grave crise e precisará de tempo para se reerguer.

Resumo rápido, o Governo deixou em frangalhos uma das maiores empresas de petróleo do mundo, investiu errado, via BNDES, e enfraqueceu os dois bancos estatais. Mais, ao fazer as famosas pedalas, o Governo se permitiu gastar mais do que podia, mais do que tinha. Gastos descontrolados e crédito artificialmente baixo para os consumidores levaram à inflação, que nos últimos anos foi tratada com complacência. Outros problemas estão surgindo em outras estatais, como a Eletrobrás.

Foi incompetência? O pior é que eu acredito que não. Isso foi, me parece, fruto de uma visão equivocada do papel do Estado. O Governo agiu como se o dinheiro viesse de uma fonte inesgotável. Todos sabemos que isso não é verdade. Caso o fosse, bastava dar dinheiro a quem não tivesse e tudo estaria resolvido. Essa irresponsabilidade está custando caro. Vai levar tempo e trabalho para reorganizar tudo.

(*) Professor do Departamento de Economia da UFPE.

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