Observatório econômico Uma boa má notícia

Publicado em: 19/05/2016 08:00 Atualizado em: 18/05/2016 20:58

Por Alexandre Jatobá (*)

Alexandre Jatobá é economista e diretor da Datamétrica. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Alexandre Jatobá é economista e diretor da Datamétrica. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
A recessão econômica poderia estar ainda pior, não fosse a melhora na balança comercial (Exportações – Importações). Essa boa notícia, que realmente é boa no curto prazo, já que impediu um agravamento ainda maior na recessão, na verdade é uma má notícia, se observarmos um pouco melhor os dados. A recuperação da balança comercial, deveu-se à forte queda no nível das importações.


Que a atual crise econômica é a pior vivida pelo país desde a Grande Depressão de 1929, não é novidade para ninguém e isso tem tirado o sono dos brasileiros.

O PIB (soma de todos os produtos finais produzidos no país) pode ser calculado da seguinte forma: Consumo + Investimentos + Gastos do Governo + Exportações - Importações. A retração no PIB, poderia estar ainda maior, não fosse a melhora na balança comercial (Exportações – Importações). Comparando a situação da balança comercial brasileira no período entre o primeiro quadrimestre de 2015 e o de 2016, saímos de um déficit de U$ 5,0 bilhões para um superávit de U$ 13,2 bilhões. Os dados para o Nordeste também são positivos, onde o déficit foi reduzido de U$ 4,9 bilhões para U$ 1,3 bilhões.

Porém, essa boa notícia, que é boa no curto prazo, já que impediu um agravamento maior da recessão, na verdade é uma má notícia, se observarmos melhor os dados. A recuperação da balança comercial, deveu-se à forte queda das importações. As importações brasileiras caíram 32,4%, enquanto que as exportações caíram 3,43%. No Nordeste a queda nas importações foi ainda maior, 43,6% contra 5,6% das exportações.

Do lado das exportações, a queda, apesar de pequena, pode ser considerada desastrosa, já que a taxa de câmbio subiu 16% no período, o que em tese, deveria ter favorecido as exportações. A redução nos preços internacionais de alguns produtos e o menor apetite da economia chinesa também colaboraram para o resultado, mas não o suficiente para compensar o efeito da taxa de câmbio.

Em relação às importações, o aumento da taxa de câmbio e, principalmente, a recessão explicam o resultado. Olhando a pauta das importações, houve uma forte queda na compra de bens de capital (35% no Brasil e 39% no Nordeste), e o efeito dessa queda é ainda mais perverso já que se trata de máquinas e equipamentos utilizados no processo produtivo. Se no curto prazo a importação desses bens “prejudica” o PIB, no médio e no longo prazos ela tem um efeito multiplicador, uma vez que propicia o aumento da capacidade produtiva do país.

Apesar de a balança comercial ter amenizado um pouco os efeitos da crise econômica, poderíamos estar numa situação melhor, não fosse a estratégia equivocada da política comercial do governo anterior em privilegiar parcerias comerciais com base em, digamos, um alinhamento ideológico, e não no potencial de comercialização. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Brasil tem apenas 22 acordos comerciais preferenciais, ao passo que Chile, Colômbia e Peru, por exemplo, têm acordos com 62, 60 e 52 países, respectivamente. Vale citar também que esses três países têm acordos de livre comércio com Estados Unidos e União Européia. Nós não temos.

Ao que parece, o novo governo já declarou ter uma estratégia diferente do anterior, buscando parceiros com maior potencial de comercialização. É esperar pra ver.

(*) Economista e diretor da Datamétrica

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