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Observatório econômico É a economia, estúpido!

Publicado em: 25/04/2016 08:00 Atualizado em: 22/04/2016 20:53

Por André Magalhães (*)

André Magalhães é professor do departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
André Magalhães é professor do departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Em um mundo encantado talvez alguém viesse nos socorrer de forma mágica. No mundo real chegou a hora de pagar a conta. Isso significa reconhecer os limites do Estado, em todos os níveis. Significa organizar as contas públicas. Significa entender que o Estado não “pode tudo”. Quando ele tenta “fazer tudo”, com um orçamento limitado, ele cria dívidas que terão que ser pagas pela sociedade.


O título acima é uma tradução da frase usada pelo então candidato a presidente dos Estados Unidos, em 1992, Bill Clinton. A ideia era lembrar a todos que o principal problema a ser tratado, naquele momento, era o econômico. Clinton foi eleito presidente e isso já é história.

Estamos no Brasil, mais de 20 anos depois, mas a frase parece extremamente relevante. Enfrentamos problemas políticos e econômicos sérios. Nos últimos dias, o foco tem sido grande na dimensão política. A votação do processo de impeachment da presidente Dilma praticamente parou o país no último domingo. Tristeza de um lado, alegria do outro, mas nada está resolvido no campo político, e muito menos no campo econômico. Do lado político, o processo seguiu para o Senado, como todos sabem. Deve levar ainda algumas semanas para que se tenha uma definição. Tudo indica que ela será afasta, mas na política nunca se pode ter certeza de nada.

Enquanto isso, no mundo real a economia sofre. Quando falamos de economia estamos, é claro, falando das pessoas. Isso é algo concreto, como a perda de empregos, de renda e o fechamento de diversas empresas em todas as partes do país. Precisamos nos voltar rapidamente para essa frente de batalha. Não há saída mágica e rápida para a crise e a simples troca de governo não vai resolver. É preciso agir, e logo.

Mas, por onde começar? Não vou pretender saber a resposta correta, mas me parece que um primeiro passo é tentar entender o que causou o problema e buscar corrigir isso. Por que estamos nesse buraco? Uma resposta que faz sentido é a de que entramos no buraco quando deixamos o governo gastar muito mais do que podia, mais do que tinha. O déficit fiscal foi crescendo ao longo dos últimos anos do atual governo, sempre com a justificativa de era preciso fazer mais pelo país. O governo perdeu o controle dos seus gastos, isso é claro hoje.

Chama atenção o fato de que isso ocorreu mesmo depois dos grandes avanços institucionais dos últimos 30 anos. Mesmo depois da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).  A Lei permitiu maior controle dos gastos, mantendo os gestores nos limites previstos e garantindo que os problemas não seriam deixados para as gestões futuras, mas acabou não sendo suficiente para controlar o Governo Federal. Precisamos evoluir nessa direção no médio e longo prazos.

Em um mundo encantado talvez alguém viesse nos socorrer de forma mágica. No mundo real chegou a hora de pagar a conta. Isso significa reconhecer os limites do Estado, em todos os níveis. Significa organizar as contas públicas. Significa entender que o Estado não “pode tudo”. Quando ele tenta “fazer tudo” com um orçamento limitado ele cria dívidas que terão que ser pagas pela sociedade. Dada a nossa história e o papel que os gastos públicos têm na nossa economia, estamos prontos para deixar o setor privado liderar o crescimento econômico? Eu gostaria de pensar que sim.

(*) Professor do Departamento de Economia da UFPE.

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