Dívidas Inadimplência atinge maior patamar desde 2013 Consumidor limpa o nome, mas após renegociar o débito, volta a se endividar e a ficar devendo. Reincidência subiu para 17,3% no ano

Por: Diario de Pernambuco

Publicado em: 29/12/2015 09:45 Atualizado em:

Depois de fazer renegociação, muitos brasileiros não conseguem seguir pagando Foto: Lucas Oliveira/DP
Depois de fazer renegociação, muitos brasileiros não conseguem seguir pagando Foto: Lucas Oliveira/DP
 

Voltar a consumir antes de conseguir quitar prestações em atraso se tornou uma armadilha para o brasileiro, que, ao se endividar, arca com taxas de juros que estão entre as mais altas do planeta, caindo em uma bola de neve. Dados do Banco Central (BC) mostram que neste ano muitos consumidores tentaram quitar suas contas, mas depois de limpar o nome na praça, não conseguiram sustentar o pagamento das parcelas e voltaram a se tornar inadimplentes.

O fenômeno da reinadimplência começou o ano com tendência de queda, mas voltou a crescer a partir de maio, atingindo, segundo o BC, o percentual de 17,3% em novembro, que é três vezes a taxa geral da inadimplência para pessoa física, de 5,8% no mesmo mês. Quando renegocia a dívida com o credor, em um prazo médio de três anos, por exemplo, um terço dos consumidores atrasa o pagamento em pelo menos 15 dias e a metade não consegue seguir adiante, abandonando as parcelas antes de conseguir se ver livre da dívida.

Uma das explicações para o sufoco do orçamento doméstico é que, ao longo do ano, as condições de crédito pioraram para o brasileiro. A avaliação de risco dos bancos está mais rígida e a taxa de juros mais alta. Além disso, a inflação de 10,5% ao ano, segundo o IBGE, corrói a renda, ameaçada também pelo crescimento do desemprego. Com essa combinação de fatores, o calote voltou a subir ao maior patamar desde 2013 e deve fechar esse ano em 6%, segundo projeção da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac). A expectativa é que o índice continue a subir, atingindo 7,5% no ano que vem, o que acende todos os alertas e pressiona ainda mais a reinadimplência.

O economista Róridan Penido Duarte observa que a reinadimplência reflete uma espécie de “efeito riqueza”. Ou seja, ao limpar o nome, o brasileiro fica com o compromisso de pagar mensalmente as parcelas renegociadas, no entanto, diante da nova situação de crédito, ele se sente livre para consumir e contrair novas dívidas. O resultado é um só. Quando no orçamento não cabem duas prestações (a antiga dívida e a nova parcela) o devedor é novamente tragado pela bola de neve.

Em tempos de crédito escasso no mercado, o cartão já pré-aprovado costuma ser uma tentação que o consumidor deve fugir. Miguel José de Oliveira, presidente da Anefac, lembra que uma dívida no rotativo do cartão pode quintuplicar no prazo de um ano e, por isso, a ferramenta não deve ser usada com essa finalidade. “O consumidor deve optar por linhas mais baratas, como o crédito pessoal ou o consignado para evitar a inadimplência que deve continuar crescendo em 2016.”



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