Taxa básica de juros Selic é mantida, mas sem unanimidade Taxa continua a 14,25% ao ano e é a mesma pela terceira reunião seguida. Votação foi 6 a 2 a favor da conservação do índice

Por: Rosana Hessel -

Publicado em: 26/11/2015 08:42 Atualizado em:

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa básica da economia (Selic) em 14,25% ao ano pela terceira reunião consecutiva, mas sem unanimidade. É a primeira divisão da autoridade monetária desde outubro de 2014. Seis diretores votaram pela manutenção dos juros e dois foram a favor do aumento de 0,50 ponto percentual, indicando que a Selic poderá subir no início de 2016 se as projeções de inflação ficarem acima do teto de meta, de 6,5% ao ano.

“A falta de consenso no Banco Central é preocupante. Isso mostra claramente que os juros podem aumentar no início de 2016 diante da piora das expectativas para o próximo ano e para 2017”, avaliou Alessandra Ribeiro, economista da consultoria Tendências. Ela lembrou que as projeções para a inflação de 2017, a exemplo do que está acontecendo com as de 2016, estão subindo, e isso poderá dificultar a convergência do IPCA para o centro da meta, de 4,5% ao ano, daqui a dois anos, como previa o BC.

Na avaliação de Alessandra, a decisão do Copom mostrou que os diretores da autoridade monetária não acreditam no debate da dominância fiscal, no qual a alta dos juros ajudaria a piorar o quadro inflacionário porque elevaria ainda mais os custos da dívida do governo. Para ela, as prisões do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), líder do governo no Senado Federal, e do banqueiro André Esteves do BTG Pactual ontem, sinalizam que as crises política e econômica devem se agravar. “Tudo pode piorar em 2016, e, com os episódios políticos desta quarta-feira contribuem para colocar pressão nos prêmios de risco e no câmbio”, destacou.

O economista André Nassif, professor da Fundação Getulio Vargas e da Universidade Federal Fluminense, considerou que a falta de consenso do Copom é problemática. “A inflação brasileira não é de demanda e sim de custo neste ano. O efeito dos juros sobre o déficit nominal do governo é perverso e acaba pressionando a inflação”, disse ele, lembrando que a Selic já está em um patamar muito alto e isso faz com que o debate sobre o fato de o país estar na eminência da dominância fiscal, quando os juros começam a contaminar o déficit público e a dívida bruta do governo ao invés de controlar a inflação.

No entender do diretor do Grupo de Pesquisas Econômicas para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, essa divisão do Copom mostra que o BC está cada vez mais desconfortável com o aumento do risco inflacionário. “O balanço da inflação tem deteriorado e a contribuição da parte fiscal do governo é cada vez menor e tem atrapalhado a dinâmica do câmbio e das perspectivas de inflação para os próximos anos”, comentou. “O BC continua sozinho na batalha para levar a inflação para meta, e, por isso, talvez tenha que aumentar os juros”, concluiu.

O comunicado do Copom foi muito curto e não fez menção se a autoridade monetária mantém vigilante no controle da inflação, como ocorria nos anteriores. O chefe da divisão econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes, destacou que o órgão precisa ser mais claro daqui para frente em seus comunicados.

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