Diario de Pernambuco
Busca
Mercado de trabalho Brasil destrói, por hora, 100 empregos formais Dados do Caged mostram que 657.761 vagas foram fechadas nos nove primeiros meses do ano. Apenas em setembro, houve 95,6 mil demissões, o pior resultado para o período desde 1992

Por: Correio Braziliense

Por: Célia Perrone

Publicado em: 26/10/2015 08:23 Atualizado em:

O desemprego está atingindo os brasileiros sem dó. De janeiro a setembro deste ano, 100 trabalhadores com carteira assinada foram demitidos, em média, por hora, incluindo sábados, domingos e feriados. No total, segundo o Ministério do Trabalho, 657.761 postos foram eliminados no período, o pior resultado desde 2002. No acumulado de 12 meses, houve destruição de mais de 1,2 milhão de vagas. Somente no mês passado, o país eliminou 95.602 empregos. Foi o pior setembro de toda a série histórica do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que começou em 1992, e o sexto mês seguido em que as demissões superaram as contratações.

“Estamos diante de um quadro devastador para o emprego”, disse Rodolfo Peres Torelly, consultor do site Trabalho Hoje e ex-diretor do departamento de emprego do Ministério do Trabalho. A recessão, segundo ele, está obrigando as empresas, de todos os ramos, a enxugarem o quadro de pessoal.

“O número acumulado de 12 meses explodiu. É assustador. Historicamente, setembro é um mês forte em contratações. Desde 2004, vínhamos gerando 200 mil vagas, em média”, frisou. Na avaliação dele, os números extrapolam qualquer previsão. “Se setembro foi assim, imagine outubro e novembro que, geralmente, são fracos, e dezembro, que é catastrófico. A marolinha se transformou em um tsunami”, afirmou.

A queda do emprego foi generalizada. No mês passado, o setor de serviços perdeu 33.535 vagas; a construção civil, 28.221; o comércio, 17.523; e indústria, 10.915. Até a agricultura, que tradicionalmente contrata, fechou vagas: 3.246. “Este será o primeiro ano, desde 2002, em que a destruição de postos formais de trabalho será maior que a criação de vagas. O único fato positivo é que a indústria parou de cair tanto. Em média, vinha perdendo 50 mil postos por mês; em setembro, foram 11 mil”, destacou Torelly.

Recessão
Os salários médios reais de admissão também apresentam trajetória de queda. Entre janeiro a setembro deste ano, os ganhos recuaram 1,26% em relação ao mesmo período do ano passado. Passaram de R$ 1.284,40, em 2014, para R$ 1.268,27, em 2015. Para Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, no atual quadro de recessão, com o consumo em retração, é uma péssima notícia a combinação de desemprego com renda menor. Isso só ajuda a empurrar o Produto Interno Bruto (PIB) para o buraco – a previsão é de contração de 3% neste ano e de 2% em 2016.

Na opinião de Bacciotti, com a crise da indústria e da construção civil, que puxam todos os demais setores, as demissões vão continuar. “Cria-se um círculo vicioso, que não se sabe quando será revertido”, assinalou. Pelas contas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), 4,7 milhões de brasileiros vão engrossar o exército de desempregados entre 2014 e 2014. Levando-se em conta que cada residência tem, em média, quatro pessoas, 18,8 milhões de pessoas serão atingidas.

Para os especialistas, o mercado de trabalho só tenderá a melhorar a partir de 2018. Assim como o emprego foi o último a ser atingido pelas crises política e econômica, será o último a sair do atoleiro. O sofrimento, portanto, será grande. Segundo Bacciotti, nesse contexto adverso, será cada vez mais difícil para os trabalhadores obterem ganho reais nas negociações salariais.

“O poder de barganha dos empregados ficou menor. Será difícil repor a inflação passada”, salientou. “Trata-se de uma situação complicada para os trabalhadores, pois a pressão inflacionária não dá sinais que diminuirá. O custo de vida já está batendo nos 10%. Isso corrói ainda mais o poder de compra”, afirmou.

Sudeste lidera
Os estados do Sudeste lideraram as demissões sem setembro, com o fechamento de 88.204 vagas. Na região Sul, foram cortados 21.088 postos como carteira assinada, enquanto o Centro-Oeste perdeu 8.958 e a região Norte, 3.470. O Nordeste teve o único saldo positivo: 26.118 empregos criados.

Dezembro cruel
Pelas contas da Tendências Consultoria, o ano de 2015 fechará com 1,5 milhão de vagas com carteira assinada a menos. Somente em dezembro, pelo menos 400 mil pessoas devem ser demitidas. Diante desses números, há especialistas alertando para o risco de convulsão social, um problemão para o governo. Alguns alerta que as classes C e D, que davam suporte à presidente Dilma Rousseff podem sair às ruas.

MAIS NOTÍCIAS DO CANAL