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PANDEMIA

Estudo mostra que mulheres adiam a gravidez por medo da Covid-19

Por: Aline Melo

Publicado em: 22/04/2021 20:54

 (Foto: AFP / ANTHONY WALLACE)
Foto: AFP / ANTHONY WALLACE
O resultado preliminar de um estudo realizado durante a primeira onda da Covid-19 no Brasil indica que as mulheres brasileiras têm receio de engravidar devido à pandemia do novo coronavírus, o comportamento é semelhante ao período de epidemia do Zika Vírus. A pesquisa, intitulada “Saúde da Mulher em Época de Zika e Coronavírus (Covid-19)”, é coordenada pela Universidade do Texas em Austin, nos Estados Unidos, em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A Região Metropolitana do Recife, o Agreste e a Zona da Mata do estado foram alguns dos lugares escolhidos para aplicação da pesquisa, que contou com 3.998 mulheres de 18 a 34 anos durante os meses de abril e maio de 2020. Agora, o estudo vai entrar em uma nova fase para levantar dados sobre a segunda onda da pandemia, em que os pesquisadores vão retornar o contato para entrevistar as mulheres que participaram da primeira etapa.

A Doutora em Sociologia pela UFPE Ana Paula Portella, que faz parte do estudo, destacou a importância dessas mulheres que participaram da pesquisa na primeira onda responderem o novo levantamento: “É muito importante a colaboração dessas mulheres para atenderem nossas ligações, elas precisam saber que nossa pesquisa é séria. Todo o processo foi avaliado por Comitês de Ética no Brasil e nos Estados Unidos”, conta a doutora.

Com o receio de engravidar durante crises de saúde pública, algumas mulheres preferem adiar a gravidez. Outro fator que colabora com a decisão é que o acesso aos serviços de saúde também foi afetado durante a pandemia, como antecipa a pesquisadora: “Muitos serviços voltados para questões da reprodução e da sexualidade como pré-natal, parto, contraceptivos foram afetados. Provavelmente estão operando com um número menor de profissionais e de horas de funcionamento por causa da pandemia”, explica Portella.

Assim como em outras pesquisas de fator social, a socióloga afirma que há diferenças na forma com que as mulheres lidam com sua saúde sexual e reprodutiva durante crises de saúde pública de acordo com sua classe social. “Mulheres com maior escolaridade e maior renda têm mais facilidade em se proteger da Covid-19. Elas tiveram mais facilidade para fazer o isolamento, manter o distanciamento social, fazer o uso de máscara e a higiene das mãos com a frequência necessária para se proteger. Mulheres com menor renda e escolaridade tiveram mais dificuldade para fazer isso.” afirma Ana Paula. 

Os motivos para essa diferença já são conhecidos: a precariedade das moradias, dificuldades para ter acesso às máscaras e à água e sabão na frequência necessária e o impedimento em manter o isolamento social em áreas que são densamente populosas. “Essa diferença resulta numa maior taxa de contaminação e de letalidade entre as mulheres da camada mais pobre da população", reforça a socióloga.

Zika vírus
A epidemia do zika vírus atingiu 12 mil grávidas dentre 144 mil pessoas no Brasil entre 2015 e 2016. Apesar do nordeste não ter sido o epicentro dos casos, a região registrou a maior taxa dos casos de malformação em cérebro de bebês, mais de 88%. O sudeste, região que teve mais casos da doença, teve apenas 8,7% de casos de microcefalia. Já no fim da pandemia, no segundo semestre de 2016, houve uma queda nos dados de natalidade no país.
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