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CIÊNCIAS DO MAR

Da superfície às profundezas: espécies de peixes transportam carbono e ajudam na regulação climática

Por: Aline Melo

Publicado em: 11/03/2021 20:30 | Atualizado em: 12/03/2021 19:31

Um exemplar de Chauliodus sloani, popularmente conhecido como Peixe Víbora (Foto: Leandro Nolé/LMI Tapioca)
Um exemplar de Chauliodus sloani, popularmente conhecido como Peixe Víbora (Foto: Leandro Nolé/LMI Tapioca)
Muito além do que podemos enxergar em um mergulho, as profundezas do oceano ainda são um grande mistério para a humanidade. Porém, existem pesquisas que se aventuram nessas águas desconhecidas e revelam como a maior migração do planeta pode ser aliada para mitigar os efeitos das mudanças climáticas globais.  Um estudo divulgado pelo Abraços, projeto entre o Brasil e a França, confirmou que, no Nordeste, algumas espécies de peixes transportam carbono da superfície do oceano para as profundezas causando um deslocamento fundamental para regulação do clima e da saúde do planeta.

O trabalho recém-publicado traz informações inéditas sobre a alimentação, habitat e comportamento migratório do peixe víbora, uma espécie de oceano profundo. Os pesquisadores observaram que no Nordeste do Brasil o peixe-víbora é muito mais abundante do que se esperava. Além deste estudo, cerca de 207 espécies de peixes foram identificadas até o momento, incluindo novas espécies e organismos que até então não haviam sido encontrados em águas brasileiras. 

Na maior parte das regiões tropicais, por exemplo, a espécie permanece em águas profundas durante toda sua fase adulta. Em regiões temperadas, no entanto, o peixe víbora frequentemente migra para superfície e interage com predadores de águas superficiais. Essa diferença de comportamento entre regiões oceânicas tem importantes implicações no processo de transporte carbono e, por consequência, na regulação climática.

O movimento sincronizado de animais marinhos entre regiões profundas e superficiais é chamado de “migração vertical”. É um deslocamento realizado diariamente e movimenta trilhões de animais por dia, sendo assim considerada a maior migração do planeta terra. 

“Em uma escala humana, seria como correr 10 km para conseguir jantar e, em seguida, 10 km antes de ir para a cama, com o dobro da velocidade de um corredor de maratona olímpica.” explica o engenheiro de pesca Leandro Nolé. 

Esse comportamento se deve, principalmente, pela alimentação desses animais. À noite, eles sobem para a superfície do oceano para se alimentar e durante o dia se escondem nas profundezas. Além disso, também é um mecanismo de proteção que garante a sobrevivência de milhares de espécies, no qual os animais evitam virar alimento de seus predadores. 
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Pesquisa

A pesquisa foi divulgada pelo ABRAÇOS que, durante estudo, coletou informações entre os anos de 2015 e 2017 sobre análise de peixes que vivem abaixo dos 200 metros de profundidade. Para se ter uma ideia, o oceano possui em média 4 mil metros de profundidade. O estudo faz parte do LMI Tapioca, laboratório multidisciplinar em ciências do mar, uma parceria entre a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e Institutos franceses de desenvolvimento (IRD-França), na qual fazem parte os laboratórios BIOIMPACT (UFRPE), LIZ (UFRJ) e Marine Biodiversity, Exploitation and Conservation (MARBEC).

Ameaçados

Apesar da importância para mitigar os efeitos do aquecimento global e o pouco conhecimento que temos acerca desses animais, é uma fauna já ameaçada por fatores como poluição de plástico nos oceanos, exploração de minério no mar profundo e mudanças climáticas que interferem na temperatura e acidez dos oceanos.
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