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Covid-19 vai afetar mais jovens que entram no mercado de trabalho e recém-nascidos

Publicado em: 11/08/2020 14:26

 (Foto: Daniel Castellano/AFP)
Foto: Daniel Castellano/AFP
A pandemia pela Covid-19 vai afetar mais os jovens que entram no mercado de trabalho e os recém-nascidos. Esses impactos podem durar anos ou décadas, com fortes prejuízos até mesmo as próximas gerações. Estudo exclusivo da Escola Nacional de Administração Pública (Enap), produzido pelo Evidência Express (EvEx), destaca que a crise sanitária tem efeitos imediatos não apenas no setor de saúde, mas também em segmentos importantes como mercado de trabalho, educação, além de aumento das desigualdade social e violência doméstica.

O relatório Covid-19: mitigação dos efeitos de longo prazo, apresentado nessa manhã pela Enap, tem o objetivo de mostrar as consequências para a população sempre que o mundo se depara com pandemias, e fundamentar decisões de políticas públicas governos nas três esferas. A pesquisa compila mecanismos de soluções bem-sucedidos, nessas ocasiões, que podem atenuar esses efeitos de médio e longo prazos.

O economista Daniel Lopes, chefe do EvEx, destaca que as principais providências dos gestores, no início da pandemia, foram ampliar o número de leitos e respiradores, programas de renda e fechamento de escolas. “Mas algumas áreas não receberam a devida atenção”, aponta Lopes. Como exemplo cita que, pela falta de recursos, no últimos 20 anos, as mulheres grávidas, nesses períodos, forma as principais vítimas.

Foram constatados aumento da taxa de mortalidade e deficiência física das mães e dos bebês, possibilidade de essas crianças filhas da pandemia manifestar diversas doenças e diminuição da altura. Para os idosos, o chamado grupo de risco, por outro lado, um dos efeitos é a internação e a mortalidade antecipada.

Para reduzir esses efeitos, principalmente na população mais pobre, o estudo indica duas linhas de atuação: a inserção de jovens no mercado de trabalho e os investimentos em programas para mulheres durante o período pré-natal. “Dado o fundamental papel de mulheres grávidas e o impacto em indivíduos in-útero durante a pandemia, o foco deve recair em programas voltados para essa população. O Programa Bolsa Família deve destinar mais recursos para essas mulheres”, destaca o economista, em sua apresentação.

“O EvEx consolida o conhecimento disponível a respeito de um determinado tema e fundamenta decisões com base em estudos reconhecidos internacionalmente. Além de ser uma importante contribuição para tomadores de decisão do governo brasileiro, o relatório pode subsidiar também a atuação de outros setores da sociedade”, afirma o presidente da Enap, Diogo Costa.

No total, o relatório apresenta 44 problemas comuns após choques e 26 estratégias de mitigação em cinco grandes áreas: 1) saúde; 2) educação; 3) trabalho e rendimento; 4) pobreza e desigualdade; e 5) violência doméstica. O levantamento foi feito com base nas principais pesquisas em diversas partes do mundo – inclusive no Brasil – depois de situações inesperadas como gripe espanhola, ebola, terremotos, enchentes e furacões nos últimos 20 anos.

Saúde pior e menor rendimento
O estudo aponta, por exemplo, que no caso de jovens que estão ingressando no mercado de trabalho, há uma tendência que tenham uma trajetória laboral menos promissora, com menores rendimentos futuros. Esse efeito pode ser atenuado não apenas por programas de transferência de renda, como por medidas que incentivem a capacitação e, assim, melhorem as oportunidades de trabalho.

Os responsáveis pelo levantamento não explicam exatamente como, mas indicam que a iniciativa para ampliar as oportunidades não deve se restringir ao setor público. Deve partir, também, do setor privado, “empregando essas pessoas com menor qualificação”

Ao mesmo tempo em que há uma tendência de aumento da taxa de nascimentos após choques exógenos (por causas externas), os estudos apontam que crianças que foram expostas ao estresse materno durante a gestação podem apresentar baixo peso ao nascer – indicador associado ao desenvolvimento cognitivo futuro. E isso pode ter impactos no processo de aprendizagem anos após a pandemia.

Neste segundo caso, ganham importância políticas públicas às gestantes, especialmente focadas na redução do estresse nutricional (dificuldade de alimentação sadia) e perda ou queda da atividade econômica. Para tentar resolver, o estudo aponta que as políticas já existentes, como o Benefício Variável Gestante (BVG), e sua expansão para mães para permitir que seja feito um acompanhamento do desenvolvimento dos bebês de forma preventiva. “Os custos dessas intervenções são menores do que os impactos futuros ao longo da vida do bebe exposto a pandemia no período pre-natal”, afirma o estudo

Crise atinge população de forma desigual
Ha, também, implicações, nessas crises, sobre a pobreza e desigualdade. Além da maior mortalidade da porção social mais desprotegida em momentos de choques, aumenta a vulnerabilidade social: com menos opções de renda, diminuem os gastos essenciais em alimentação ou a substituição de outros gastos, como saúde e educação. Com isso, cresce a desigualdade no longo prazo em razão do impacto desproporcional, aumentando também as adversidades para se recuperar aos níveis de bem-estar pre-pandemia.

O estudo covid-19: mitigação dos efeitos de longo prazo faz parte de Evex, novo serviço oferecido pela Enap, direcionado principalmente a gestores públicos. O EvEX é uma iniciativa da Enap, focada em reunir, sintetizar e fornecer com qualidade e agilidade evidências que possam servir de base para o desenho, o monitoramento e a avaliação de políticas públicas.
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