CULTURA

'Não custa nada a gente acreditar e batalhar', diz Lula no novo Armazém da Utopia, no Rio

Com investimento federal, espaço cultural se projeta como maior equipamento multifuncional do Rio, porto aberto para coletivos artísticos de trabalho continuado do Brasil e do mundo

Publicado em: 13/09/2024 18:38 | Atualizado em: 13/09/2024 18:40

 (Ricardo Stuckert/PR)
Ricardo Stuckert/PR

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, na noite desta quinta-feira (12/9) da cerimônia de reinauguração do Armazém da Utopia, no bairro de Santo Cristo, na cidade do Rio de Janeiro. O espaço cultural esteve fechado para obras de restauração e modernização por 15 meses. Projeto pioneiro para todo o segmento artístico, o novo Armazém da Utopia agora se abre para coletivos artísticos de trabalho continuado do Brasil e do mundo

 

"Fico feliz por estarmos inaugurando o extraordinário Armazém da Utopia. Tudo isso que está acontecendo no Brasil é porque conseguimos conquistar de volta uma palavra que precisamos aprender a dar muito valor: a democracia”, afirmou Lula, durante a cerimônia. É ela que permite, segundo o presidente, que a cultura seja vista como investimento, não como gasto. “Porque a cultura é uma das formas de você fazer com que 203 milhões de brasileiros e brasileiras se manifestem da forma que são, da forma que querem, para que a gente possa compreender o comportamento da sociedade brasileira e o resultado do povo que nós somos".

 

Com investimento total de R$ 36 milhões — sendo R$ 12 milhões investidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) — a restauração do armazém não interrompeu as atividades artísticas e de formação técnica da Companhia Ensaio Aberto, responsável pela gestão do espaço desde sua mudança para o local, em 2010.

 

A reestruturação incluiu obras de restauro e conservação, aquisição de mobiliário e equipamentos cênicos, tratamento e digitalização do acervo, entre outros itens. A preservação do traçado arquitetônico, aliada à remodelagem das funcionalidades do espaço (viabilizada pelo uso da tecnologia), transformará o Armazém da Utopia no maior equipamento cultural capacitado para múltiplas funções do Rio.

 

Propor novas ideias e usos, na avaliação do presidente, é exatamente o que faz da cultura uma maneira de contrapor o pensamento dominante de uma sociedade. “É por isso que vivo um momento de muito orgulho nesse país, de dizer para vocês, em alto e bom som, olhando na cara de cada um: nunca antes na história do Brasil se investiu tanto em cultura como estamos investindo neste momento”, afirmou Lula. “Não é tudo o que a gente precisa, mas é o máximo que nós já conseguimos. Não custa nada a gente acreditar, batalhar e dizer que a única coisa impossível é Deus pecar. O resto, nós somos capazes de construir”, prosseguiu.

 

Investimentos no setor

 

O ministro da Cultura interino, Márcio Tavares, afirmou que a retomada e reconstrução de políticas culturais são fundamentais para que o país continue seguindo o caminho da democracia e do desenvolvimento sustentável e igualitário.

 

“O setor cultural gera 3,11% do PIB do Brasil, gera quase 7 milhões de empregos, traz comida na mesa. Mas, sobretudo, traz identidade, símbolos e valores que são muito maiores do que qualquer contabilização financeira. O valor da cultura e do investimento em cultura é inestimável para um país, para uma nação que quer se colocar de forma altiva e ativa”, declarou.

Tereza Campello, diretora Socioambiental do BNDES, reafirmou o compromisso da instituição com o incentivo ao resgate da memória cultural brasileira. "O BNDES é o maior apoiador de reconstrução de patrimônio histórico no Brasil. Estamos dedicando toda a nossa agenda de cultura para cumprir esse papel. E aqui cumprimos um papel duplo: patrimônio histórico, que está vivo, servindo a cultura de forma multidimensional, em um lugar super estratégico que é aqui na pequena África, outra agenda de resgate da cultura brasileira", pontuou.

 

A edificação, na Zona Portuária, compreende dois armazéns construídos no início do século 20 e que têm, juntos, mais de 5 mil metros quadrados. O complexo é reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como o único, entre os 14 armazéns da região, que mantém a arquitetura original, com a estrutura em aço e a fachada de tijolos aparentes, preservando a memória do Porto e dos portuários.

 

Adaptado a todos os requisitos de acessibilidade e segurança, com casa de máquinas, foyer, bilheteria e café, o espaço estará apto a receber manifestações culturais, feiras, convenções e eventos corporativos, suprindo a demanda por equipamentos desse tipo na cidade e reforçando seu impacto cultural na região do Porto Maravilha, onde já se encontram o Museu do Amanhã, o Museu de Arte do Rio (MAR) e o AquaRio.

 

Para a gerente de Patrocínios e Projetos do Instituto Cultural Vale, Marize Mattos e Nazz, o novo espaço dialoga diretamente com a estratégia de apoio à cultura adotada pela organização. "Desde a criação do instituto, em 2020, já atingimos mais de 800 patrocínios. Muitos com incentivo da Lei Rouanet e outros com recursos próprios. Mas todos sempre buscando a democratização do acesso e o desenvolvimento por meio da cultura: porque a cultura transforma", disse.

 

Cristiano Pinto da Costa, presidente da Shell Brasil, manifestou satisfação com a parceria da empresa com a cultura da cidade do Rio. "A parceria da Shell com o Armazém da Utopia, um equipamento de cultura, diversidade e do povo brasileiro, reforça nossa intenção de contribuição. É a preservação da história e a concepção do novo. É um lugar de inclusão, de diversidade, de capacitação, de geração de emprego e renda. Através das artes", defendeu.


Referência nacional

 

A modernização do Armazém da Utopia também deve consolidar o Instituto Ensaio Aberto (IEA) como referência para a formação de uma rede de companhias de artes cênicas com trabalho continuado. Entre as entregas previstas no projeto, por exemplo, está a recepção de cinco grupos teatrais visitantes (ou residentes) em dois anos.

 

A Companhia Ensaio Aberto estima que o número de espectadores, após a reforma, chegue a cerca de 150 mil pessoas por ano — salto de 260% em relação aos 57,6 mil espectadores de artes cênicas no espaço, atualmente. Projeta-se ainda que o público de outros segmentos culturais seja pelo menos o dobro do atual.

 

O IEA tem repertório focado em temas de interesse político e histórico. Seu público é marcado por forte presença da população de baixa renda, cujo acesso é viabilizado pela Ciência do Novo Público (CNP), uma metodologia de mapeamento, formação e fidelização de plateia criada pelo próprio Instituto. A CNP, que será compartilhada com as companhias convidadas, também atende a um público de escolas públicas e privadas, universidades e projetos sociais. 

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