REDE SOCIAL
Mudança técnica permitiu ao X driblar bloqueio judicial no Brasil
O X afirmou que a restauração ''temporária'' do serviço no Brasil foi ''involuntária''
Publicado em: 19/09/2024 09:36
O STF afirmou nesta quarta-feira ''ainda não ter informações'' a respeito do incidente (Crédito: MAURO PIMENTEL / AFP) |
A rede social X realizou uma mudança técnica que lhe permitiu driblar o bloqueio judicial do qual é alvo Brasil, informou nesta quarta-feira (18) a Associação Brasileira de Provedores de Internet e Telecomunicações (Abrint).
"O aplicativo X foi atualizado (...) durante a noite, o que resultou em uma mudança significativa em sua estrutura". Essa mudança "torna o bloqueio muito mais complicado", afirmou a Abrint em um comunicado divulgado em seu site.
O X afirmou que a restauração "temporária" do serviço no Brasil foi "involuntária" e se deu por uma razão técnica.
"Quando o X foi desligado no Brasil, nossa infraestrutura para fornecer serviço à América Latina não esteve mais disponível para nossa equipe", declarou a rede em sua conta de Assuntos Governamentais Globais, acrescentando que "mudamos de provedor de rede".
Essa mudança "resultou em uma restauração temporária e involuntária do serviço para os usuários brasileiros".
"Embora esperemos que a plataforma volte a ficar inacessível em breve, continuamos trabalhando com o governo brasileiro para que ela esteja disponível novamente para os cidadãos do Brasil o quanto antes", concluiu a rede.
A plataforma começou a utilizar os serviços da Cloudflare, uma empresa de cibersegurança, informou à AFP Basílio Rodriguez Pérez, conselheiro da Abrint.
A versão mais recente do aplicativo "passou a procurar o conteúdo do X através do Cloudflare (...) Não vai mais diretamente buscar o X pelas próprias redes do X, vai buscar através do Cloudflare, que naturalmente tem outros IPs", disse ele.
Essa empresa permite que os endereços de internet IP mudem constantemente, o que dificulta o bloqueio em comparação a IPs específicos, segundo a Abrint.
BOLSONARO DE VOLTA
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, ordenou o bloqueio da rede de propriedade de Elon Musk, acusando-a de descumprir ordens judiciais para suspender contas acusadas de desinformação e por se recusar a nomear um representante legal no Brasil.
Ao bloquear a rede, Moraes alertou os 22 milhões de usuários da plataforma no Brasil de que quem infringisse a ordem e acessasse a plataforma por meio de "subterfúgios", como redes privadas virtuais (VPN), estaria sujeito a multas diárias de 50 mil reais.
Irritado com a decisão, Musk acusou o ministro de ser um "ditador maligno".
O STF afirmou nesta quarta-feira "ainda não ter informações" a respeito do incidente.
O ex-presidente Jair Bolsonaro, um dos maiores críticos do bloqueio, se apressou em publicar na plataforma nesta quarta-feira pela primeira vez desde 30 de agosto.
"Parabenizo a todos pela pressão que moveu engrenagens em defesa da democracia no Brasil (…) proibir a maior rede social do país não foi punir uma empresa, foi punir milhões de brasileiros", expressou Bolsonaro, muito próximo do magnata Musk.
Segundo Rodriguez Pérez, a Cloudflare é utilizada por "mais de 24 milhões de sites (incluindo) bancos, imprensa, até mesmo sites do próprio governo brasileiro", o que dificulta o bloqueio.
"Temos que aguardar uma orientação nova sobre o que fazer e como fazer, porque não dá para simplesmente ir bloqueando uma coisa que pode bloquear um serviço importante ou necessário", detalhou o porta-voz da associação.
Na madrugada de terça para quarta-feira, enquanto o aplicativo era atualizado automaticamente em milhões de celulares, Musk escreveu no X: "A mágica, quando suficientemente avançada, é indistinguível da tecnologia", em uma mensagem interpretada como uma "provocação" pela mídia local.
USUÁRIOS SURPRESOS
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), responsável pela implementação do bloqueio, disse, por sua vez, investigar "os casos relatados" de acesso.
Alguns usuários mostraram surpresa com o retorno da rede.
"Ministro Alexandre de Moraes: eu não usei VPN para entrar aqui, simplesmente abri o aplicativo em um ritual cotidiano de abstinência e estava funcionando, eu não tenho 50k par bancar essa brincadeira não", escreveu um usuário no X.
A atualização do X coloca os ministros do STF "em xeque", de acordo com o professor de telecomunicações da Fundação Getúlio Vargas, Alexandre Caramelo.
O caso "mostra que eles não entendem o que estão fazendo e mostra que tecnicamente eles estão muito aquém do que é possível fazer nesse tipo de contexto", afirmou à AFP.
A ordem judicial de suspender a plataforma reacendeu o debate sobre a liberdade de expressão e os limites das redes sociais dentro e fora do País.
A decisão de bloquear o X foi aplaudida por apoiadores de esquerda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Consultado pela AFP, o secretário de Políticas Digitais, João Brant, não quis comentar o ocorrido.