MEIO AMBIENTE

Do litoral norte ao sul: manguezais sofrem com atividade humana

Por: Aline Melo

Publicado em: 11/06/2021 19:48 | Atualizado em: 11/06/2021 20:04

 (Foto: Arquivo/LMI Tapioca)
Foto: Arquivo/LMI Tapioca
Apesar do Ministério do Meio Ambiente ter mudado a legislação ambiental no Brasil e acabado com a proteção de mais de 1 milhão de hectares de florestas de manguezais em 2020, uma pesquisa da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) mostra que a proteção desse ecossistema continua sendo urgente. O estudo avaliou o impacto da atividade humana durante os últimos 30 anos nos manguezais de três estuários em Pernambuco: Canal de Santa Cruz, no norte do estado, Suape e Sirinhaém, que ficam no litoral sul.

Os pesquisadores notaram um possível aumento na concentração de sais minerais. Esse processo, chamado salinização, ocorre tão rápido que dificulta a adaptação de algumas espécies de peixes e mariscos a essa mudança, fazendo com que parte da fauna local desapareça. Além disso, a agricultura em Sirinhaém, a aquicultura no Canal de Santa Cruz e a construção do porto em Suape desmataram parte da vegetação dos estuários.

Com o desmatamento da vegetação do manguezal e o aumento da salinização, muitos pescadores artesanais de Pernambuco têm sua renda prejudicada. A pesca artesanal está muito ligada à subsistência, agravando também a segurança alimentar das famílias que vivem dos recursos pesqueiros no litoral do estado. Outro agravante é que a degradação do manguezal pode prejudicar a pesca de peixes vermelhos, como pargo e cioba, que tem importância econômica para os restaurantes e o turismo.

O estudo “Coastal Land Use in Northeast Brazil: Mangrove Coverage Evolution Over Three Decades”, publicado na revista norte-americana Tropical Conservation Science, revelou que a área de aquicultura no Canal de Santa Cruz aumentou 92% ao longo das últimas três décadas e teve redução de 10% do manguezal na área. A remoção dessa vegetação para cultivo de uma única espécie, como ocorre com o camarão, é bastante prejudicial não só para a biodiversidade do ecossistema, como também para a regulação climática.

Os manguezais armazenam mais carbono que florestas continentais, sendo fundamentais para proteção climática. Quando parte desse ecossistema é desmatado, a emissão de carbono na atmosfera pode ser 10 vezes maior por hectare em relação às florestas, já que existe um acúmulo muito grande de CO2 no solo do manguezal. É um fator que contribui para acelerar os efeitos das mudanças climáticas que afetam todo o estado, inclusive biomas como a Caatinga e a Mata Atlântica.

Já em Sirinhaém e Suape, houve um aumento de 20% na cobertura de manguezais, mas o motivo não é positivo. Parte da vegetação foi devastada pela agricultura e construção do porto e esse crescimento se deve pelo aumento do nível do mar.

“Isso pode ser relacionado ao aumento do nível do mar e as atividades antrópicas que envolvem a construção de represas que impediram o aporte de água doce de alguns rios. Isso causou uma salinização que ajudou o manguezal a substituir outra vegetação que não era adaptada a solos mais salinos”, explica a doutora em recursos pesqueiros pela UFRPE e uma das pesquisadoras envolvidas, Latifa Pelage.

Como a salinização causada pelo aumento do nível do mar é influenciada pelo aumento da temperatura, não é possível reverter. Do mesmo jeito que acontece no bioma da Caatinga, que está em processo de desertificação, as mudanças climáticas no Manguezal, que é um ecossistema costeiro, não podem mais ser revertidas, mas sim mitigadas com a redução de emissão dos gases do efeito estufa.
Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL