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Temor por outras tragédias se espalha entre moradores de Minas Gerais

Publicado em: 31/01/2019 08:02

Chegada de restos mortais ao centro operacional no bairro Córrego do Feijão. Foto: Juarez Rodrigues/Estado de Minas
Ao mesmo tempo em que a contagem de corpos de vítimas do colapso da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, se aproxima de romper a casa dos dois dígitos, os reflexos da catástrofe extrapolam fronteiras e, em Minas, espalham pelo mapa medo de tragédias semelhantes. Ontem, relatores especiais de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) cobraram investigação imediata, completa e imparcial do rompimento da represa e lembraram o antecedente da tragédia em Mariana, ocorrida em 2015. Ao mesmo tempo, outras gigantes da mineração que, há décadas, exploram ricas reservas de ferro na Região Central mineira anunciam a disposição de seguir a decisão da Vale — dona da mina onde ocorreu o desastre mais recente — e desativar barragens de rejeitos com o mesmo nível de risco das duas que estouraram nos últimos três anos.

Em Brumadinho, onde o que já foi medo se transformou em catástrofe, dor, luto e prejuízo, a Justiça agiu para suspender as atividades de mais um empreendimento: da Mineração Ibirité Ltda. (MIB), no mesmo Córrego do Feijão. A empresa atuava próximo à barragem da Vale que se rompeu provocando até agora 99 mortes confirmadas, e deixando 259 desaparecidos. O pedido de suspensão foi feito pelo Ministério Público de Minas Gerais. O MP sustenta que, pela proximidade, a atividade da MIB na região também está em risco.

Ontem, representantes de comitês de bacias hidrográficas fizeram visita técnica à área da represa que se rompeu e cobraram medidas de proteção aos recursos hídricos em todo o país. “Primeiro, prestamos solidariedade às vítimas, que tanto sofrem. Mas temos de alertar que não foi só aqui em Brumadinho que esse tipo de coisa ocorreu. Houve o rompimento de barragem em Barcarena, no Pará (em fevereiro de 2018), e também o vazamento do mineroduto que liga Minas ao Espírito Santo (em Santo Antônio do Grama, em março). Precisamos dar um basta nisso”, disse o presidente do Comitê da Bacia do Rio São Francisco, Anivaldo Miranda, que defende “tirar da gaveta a Lei Nacional de Recursos Hídricos”.

O presidente do Fórum Estadual de Comitês de Bacias Hidrográficas, Marcos Vinícius Polignano, foi contundente na defesa de medidas imediatas. “Temos de denunciar o descaso da empresa com o meio ambiente. A Vale acabar com barragens a montante (como as de Mariana, rompida em 2015, e a de Córrego do Feijão) é ótima notícia, mas é uma decisão que está três anos atrasada, no mínimo”, afirmou ele, que exige a recuperação do Rio Paraopeba, além do auxílio às vítimas da catástrofe. Já Winston Caetano, presidente do Comitê do Rio Paraopeba, alerta para o risco à saúde das pessoas com o consumo de água nas áreas atingidas. “Não é recomendável o uso nem para irrigação”, advertiu.

Fake news
Envolvidos nos resgates têm de lidar com atitudes irresponsáveis, que dificultam ainda mais o processo de busca por vítimas. Ontem, novo alerta foi feito pelo Corpo de Bombeiros em relação às notícias falsas. Segundo o tenente Pedro Aihara, porta-voz da corporação, os trabalhos estão sendo interrompidos para verificar informações mentirosas. 

“Todas as vezes que recebemos informações sobre sobrevivente, com uma referência de ter sido encontrado, o que é situação muito difícil de ser verídica, a gente é obrigado a parar para averiguar a informação. Então, paralisamos os serviços.”

O comandante de salvamento especializado do Corpo de Bombeiros, capitão Leonard Farah, admitiu que a chance de encontrar sobreviventes é “praticamente zero”. “Os protocolos internacionais, principalmente os utilizados pela ONU e pelos israelenses, consideram que até sete dias depois da tragédia a gente poderia encontrar sobreviventes. Então, a chance é mínima”, disse.

Contabilidade da catástrofe até a noite de ontem
99 óbitos
57 identificados
259 desaparecidos
393 localizados
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