protesto Alunos de arquitetura de universidade federal se recusam a projetar casa com área para empregados Em nota, estudantes pedem cancelamento do trabalho que previa projetar imóvel de 800 m² com área de serviço, quartos e banheiros para oito empregados. 'Perpetua o racismo', criticam

Por: Estado de Minas

Publicado em: 27/07/2017 20:02 Atualizado em: 27/07/2017 20:10

Os estudantes consideram que o projeto 'incorpora a senzala e reforça os moldes de dominação em pleno século 21'. Foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press
Os estudantes consideram que o projeto 'incorpora a senzala e reforça os moldes de dominação em pleno século 21'. Foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press
Alunos do curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) criticaram nesta quinta-feira um trabalho da disciplina Casa grande que consistia em projetar um imóvel de alto padrão com espaço separado para empregados – com quartos e banheiros incluídos.

Em nota coletiva de repúdio postada em uma rede social pelo diretório acadêmico da Escola de Arquitetura (EAD) da UFMG, os estudantes consideram que o projeto “incorpora a senzala e reforça os moldes de dominação em pleno século 21”. O trabalho foi proposto pelo professor Otávio Curtiss. 

Segundo a postagem, o trabalho previa que os alunos deveriam se reunir em duplas para fazer estudo preliminar e anteprojeto de uma residência de 800 metros quadrados em um terreno de 4 mil metros quadrados no condomínio no Vale dos Cristais, em Nova Lima (Grande BH). O projeto do imóvel, com cinco suítes, incluía área de serviço com cozinha, lavanderia, despensa, depósito, cômodos técnicos e quartos e banheiros para oito empregados. Para estudantes, o caso ilustra como “a estrutura escravocrata ainda segue presente no cotidiano brasileiro.” 

“Como discutido em diversas disciplinas na EAD-UFMG, o quarto de empregada, por exemplo, tem como origem a segregação escravista. Ele surge como uma solução para separar empregados e patrões que permaneceram vivendo juntos após a abolição, em 1888”, diz trecho da nota de repúdio. 

 “Com o crescimento das cidades e a verticalização urbana, as novas soluções de moradia mantiveram soluções arquitetônicas que perpetuam a separação entre patrões e empregados", prossegue o texto. Na nota, os alunos pedem o cancelamento da proposta da disciplina por considerar que perpetua o racismo. 

Contatado pelo em.com.br, o professor Otávio Curtiss se manifestou por e-mail. “Não tenho interesse em entrar nessa questão. Os alunos não são obrigados a cursar essa disciplina para obterem o grau de arquitetos.” Procurada, a assessoria de imprensa da UFMG informou que a Escola de Arquitetura deveria falar sobre o caso. A diretoria da escola, por sua vez, informou que aguarda o departamento e o colegiado se manifestarem para se posicionar sobre o caso.


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