Respeito 20ª Parada LGBT do Distrito Federal reúne nacionalidades diferentes para pedir por mais amor Encontro pacífico e colorido mostrou que essa convivência pode, sim, ser possível

Por: Gabriella Bertoni - Especial Correio Braziliense

Por: Carina Ávila - Especial Correio Braziliense

Publicado em: 26/06/2017 08:07 Atualizado em: 26/06/2017 11:20

Foto: Carlos Vieira/CB
Foto: Carlos Vieira/CB


O clima em frente ao Congresso Nacional na tarde de ontem era de festa e de alegria. Mas, muito além disso, a 20ª Parada do Orgulho LGBTs de Brasília foi principalmente um ato político. Com o tema “Religião não se impõe, cidadania se respeita”, o evento reuniu (segundo informações confirmadas até o fechamento desta edição) cerca de 15 mil pessoas, munidas de bandeiras com as cores do arco-íris e cartazes que reivindicavam respeito e pediam um Estado laico, sem a interferência da religião na política do país.

Representantes de diversos grupos LGBTTT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) discursaram em cima do trio elétrico, ressaltando que o movimento não é contra religiões, afinal, “a maioria das pessoas presentes são religiosas”, disseram. Mas é contrário à criação de leis baseadas em visões religiosas que interfiram no direito dos cidadãos. Muitas pessoas que discursaram ainda deram testemunho de casos de homofobia dos quais haviam sido protagonistas e pediam mais amor e aceitação.

Prevista para começar às 14h, a parada teve início com uma hora de atraso. A demora foi resultado de um impasse entre a organização do evento e a Polícia Militar. Os realizadores conseguiram, após negociação com o Governo do Distrito Federal (GDF), autorização para ocupar uma área gramada em frente ao Congresso Nacional, mas o espaço estava interditado. Depois de uma conversa entre as partes, o local foi liberado e os trios elétricos puderam ser posicionados, conforme planejado inicialmente. “É simbólico fazer a parada em frente ao Congresso Nacional, porque foi um poder que não se movimentou para assegurar direitos da comunidade LGBT”, afirmou Michel Platini, um dos idealizadores.

De início, eram poucas as pessoas no local. No entanto, o número começou a crescer rapidamente e logo era possível ver centenas de pessoas que saíam da rodoviária e desciam a pé até a Alameda das Bandeiras, o lugar da concentração. Foi quando os dois trios elétricos do evento começaram a se deslocar rumo ao Palácio do Buriti, local programado para o fim da manifestação. Animados, os participantes seguiram os trios, que tocavam músicas de artistas pop, como Lady Gaga, Rihanna e Anitta, e também de famosos cantores brasileiros, como Anitta, Wesley Safadão e Pabllo Vittar. As pessoas festejavam, dançavam, cantavam, desfilavam com fantasias coloridas e se beijavam ao som dos DJs. Os trios elétricos chegaram à Torre de TV por volta das 20h30.

Rede de apoio
Pessoas de diferentes idades, de diversas partes do Brasil, e até do mundo, marcaram presença na manifestação. Havia adolescentes, jovens, adultos, idosos e até famílias com crianças. Representantes de algumas embaixadas também fizeram questão de estar ali.

Um grupo da embaixada da Austrália seguia ao lado de membros da embaixada da Nova Zelândia, com bandeiras dos países e camisetas de apoio à comunidade LGBTTT. “Na Austrália, fazemos muitos eventos assim, sempre organizamos paradas gays. Estou achando muito legal”, disse a vice-embaixadora Tracy Reid.

Um dos pontos fortes da manifestação foi o destaque para grupos que costumavam ser deixados de lado no cenário LGBTs, como transexuais e transgêneros. “Participo das paradas desde 2010, mas esta é ainda mais especial, pois abraça toda a diversidade. Ninguém fica de fora”, pontuou a transexual Laila Durand, 24 anos, formada em marketing. “Precisamos tirar o estigma ruim, mostrar que existimos, estamos aqui e merecemos respeito”, completou.

E, para apoiar o movimento LGBT, a família do sociólogo Daniel Galvão, 42, se uniu para “Lutar por amor”, com dizia a plaquinha que seguravam. “Neste momento de golpe que vive o país, lutar pelo amor é o mínimo que podemos fazer. Não podemos separar o amor da política. É uma obrigação do cidadão lutar para melhorar nosso país e respeitar as diferenças, sejam elas quais forem”, ressalta.

Direitos conquistados
A 20ª edição da Parada do Orgulho LGBTs de Brasília acontece dois dias depois da assinatura da regulamentação da lei que proíbe qualquer tipo de discriminação por conta da orientação sexual. Foram 17 anos de espera desde a sanção da lei 2.615 de 2000, que prevê multas em casos de intolerância. “É um marco, mas assinar um papel é muito fácil. Agora essa lei precisa ser efetivada”, afirmou a assessora parlamentar Rita Rabello, 54 anos, nascida no Rio de Janeiro e moradora de Brasília há mais de 20 anos.


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