Direitos humanos Grafiteiros se unem contra pichação homofóbica no Rio Ideia é buscar o diálogo com os pichadores que escreveram os xingamentos para que o vandalismo não ocorra novamente

Publicado em: 02/05/2016 23:28 Atualizado em:

Os grafiteiros Bili Gebara e Rafaela Monteiro, a RafaMon,  pintam novamente porta da papelaria Macris, na praça São Salvador, que havia sido pichada com mensagens homofóbicas. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)
Os grafiteiros Bili Gebara e Rafaela Monteiro, a RafaMon, pintam novamente porta da papelaria Macris, na praça São Salvador, que havia sido pichada com mensagens homofóbicas. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Um dia após ter seu grafite na Praça São Salvador pichado com mensagens homofóbicas, a artista visual RafaMon fez nesta segunda-feira nova pintura na porta da papelaria onde, no sábado, ela já havia desenhado uma flor gigante e multicolorida para cobrir mensagens de ódio.

A artista voltou hoje ao local com o colega Bili Gebara e disse que outros grafiteiros já se dispuseram a "entrar na briga" contra as pichações homofóbicas. A nova arte mostra mãos coloridas entrelaçadas. "A gente quer passar uma mensagem de amor agora, que tivesse algum significado, mesmo sem escrever. As mãos entrelaçadas mostram que a gente está junto. Ninguém precisa ser homossexual para defendê-los. Estamos juntos inclusive contra essa pressão fascista. Se picharem de novo, vou pintar de novo".

De acordo com Bili, a ideia é buscar o diálogo com os pichadores que escreveram os xingamentos para que o vandalismo não ocorra novamente. "Existe um código não escrito em que os pichadores tendem a respeitar o grafite. Mas existe provocação, todo tipo de coisa. Nesse caso não é pichação, ele escreveu uma mensagem. É uma expressão dele, não concordo, mas respeito. O nosso desenho provoca o diálogo, pensamos em algo que abafe o conflito, queremos unir".

O dono da papelaria, Luiz Veltri, 92 anos, disse que a pichação feita no dia 18 de abril foi a primeira em 46 anos da loja. “Apareceram uns dizeres que repercutiram mal na comunidade. As meninas vieram e conversaram comigo [sobre o grafite] e eu aceitei, participei com o dinheiro das tintas. No sábado eu vi a pintura e achei maravilhosa, tinha gente parando carro para tirar foto. Foi uma coisa que agradou. Agora picharam de novo, falei que não valia a pena pintar de novo, mas resolveram pintar".

O segurança noturno, contratado pelos bares da região, disse não ter visto o autor das pichações, segundo Veltri.

Reação
A advogada Geórgia Bello, integrante do Coletivo À Esquerda da Praça, diz que a mensagem de ódio pode estar relacionada com o trabalho que o coletivo faz na praça, de promover debates sobre questões como direitos das mulheres e minorias.

"Acho que isso tem a ver com esse momento de ódio que o país vive, as pessoas são desrespeitosas. No domingo, um senhor me dirigiu ofensas porque eu estava com um adesivo 'Fora Cunha'. Passamos por situações de ódio gratuito porque a gente defende um governo que a gente acredita. Qual o sentido de pichar a porta de um senhor de 92 anos, conhecido no bairro? Isso tem a ver com esse momento político e com o trabalho que a gente faz na praça, que acaba sendo uma formação política".

No próximo sábado, cinco bares da região terão as portas grafitadas, "para colorir a praça", de acordo com os ativistas.



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