Causas Ministério da Saúde reconhece relação do surto de microcefalia com o vírus zika Já foram registrados 400 casos de recém-nascidos com a doença neste ano

Por: Nívea Ribeiro

Publicado em: 18/11/2015 07:41 Atualizado em:

Os casos de microcefalia registrados este ano já chegam a 400 recém-nascidos neste ano, em sete estados do Nordeste. Os números foram anunciados ontem pelo Ministério da Saúde, que confirmou a presença do vírus zika, a partir de exames feitos por laboratório do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), no líquido amniótico de duas gestantes na Paraíba cujos bebês possuem a condição — reforçando a hipótese de correlação entre as duas doenças.

“O diagnóstico está quase fechado, porque não é esperado que exista o vírus zika em nenhum tecido do corpo humano. Isso revela infecção aguda pelo zika e, nesses casos, além de estar presente no organismo, ele passou para o feto. Então, é altamente provável que não seja apenas uma coincidência, mas que uma coisa é determinada pela outra”, afirmou Claudio Maierovitch, diretor do Departamento de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde.

Segundo Maierovitch, ainda faltam provas para a relação, mas fortalecem essa possibilidade o fato de não ter sido encontrada nenhuma causa específica para o “surto” de microcefalia e a forte circulação do vírus no primeiro semestre de 2015, pela primeira vez no Brasil, em especial no Nordeste. O vírus zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti – o mesmo da dengue e da chikungunya, tem sintomas leves, como febre e manchas avermelhadas pelo corpo. Este ano, 14 estados do país tiveram casos de zika, que antes só estava presente em partes do continente africano e na Polinésia Francesa (Ásia). Não há vacina ou tratamento específico para o zika, e existe a suspeita de que a doença só pode ser adquirida uma vez, o que reduziria a circulação ano após ano.

“Nós estamos sendo extremamente cautelosos nessa relação, porque a situação é toda nova. Não tínhamos relatos anteriores em lugar nenhum do mundo nem literatura sobre a relação entre o zika e uma malformação congênita. Esse conhecimento científico ainda não está comprovado”, ponderou. O diretor sugeriu que as mulheres que planejam engravidar agora conversem com a família e com médicos sobre os riscos e tomem a decisão de maneira informada.

Emergência
Na semana passada, o Ministério decretou estado de emergência em saúde pública devido à notificação de 141 casos em Pernambuco — agora, já são 268. Há ainda 44 suspeitas em Sergipe, 39 no Rio Grande do Norte e 10 no Piauí. Ceará, Bahia e Paraíba, que anteriormente não haviam percebido anormalidade nos números, agora registram 9, 8 e 21 casos possíveis. O aumento expressivo ocorreu apenas na região Nordeste, mas o resto do país já está seguindo o procedimento elaborado pelo ministério e deve notificar as ocorrências por meio de formulário especial, disponível on-line a partir de hoje para todas as secretarias de Saúde estaduais e municipais.

A microcefalia é caracterizada pelo menor perímetro cefálico dos recém-nascidos, cujo tamanho normal é de 33 centímetros. Além de infecções virais, o problema pode ser causado por rubéola e toxoplasmose, alterações genéticas e consumo de álcool e drogas pela gestante. A condição pode ser diagnosticada ainda durante a gravidez, e os comprometimentos causados variam caso a caso, podendo afetar, em diferentes intensidades, as capacidades motoras e psicológicas das crianças. Há também possibilidade de óbito.

“A frequência dos casos no Nordeste é muito acima da média. Presume-se, então, que alterações genéticas ou o consumo de drogas aumentaram mais de 10 vezes? Não. Então, apesar de a relação entre as epidemias de zika — ou até chikungunya — e a microcefalia não estar comprovada, ela é plausível”, disse Mauro Takao, neurocirurgião do Hospital Santa Luzia. O especialista esclarece que não há tratamento para a condição em si, somente para os efeitos que ela pode ter na criança, como reabilitação motora, de fala e aprendizado, e, eventualmente controle de crises convulsivas com medicamentos.

“A criança nasce com a cabeça pequena porque o crânio é pequeno, assim como o cérebro. Esses fatores impedem que as células dos neurônios se desenvolvam, falta massa encefálica e, infelizmente, não há como desenvolver esses neurônios. No recém-nascido, além da medição da cabeça, a microcefalia pode ser percebida quando a criança é ‘molinha’, tem dificuldade de deglutição e sucção”, explicou o neurocirurgião. Claudio Maierovitch, do Ministério da Saúde, informou que em Pernambuco já existem centros de suporte a crianças com microcefalia. Takao lembra que, além do apoio aos pacientes, o governo deverá investir em mais campanhas de prevenção ao mosquito transmissor do zika, caso se comprove a relação.


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