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Um censo para identificar as capivaras
O levantamento ocorre em Campinas (SP), que, assim como Recife, tem animais soltos. Ação é para controle da febre maculosa
Publicado: 26/06/2023 às 12:00

(CARLOS BASSAN/PREFEITURA DE CAMPINAS)

Após a morte de quatro pessoas e a suspeita de contaminação de outras por febre maculosa, a Prefeitura de Campinas (SP) começou a fazer, na semana passada, um censo das capivaras nas áreas públicas da cidade. As capivaras, gambás, cavalos, cães e bovinos estão entre os principais hospedeiros do carrapato-estrela, que transmite a bactéria Rickettsia rickettsii, patógeno transmissor da febre maculosa. Os casos foram detectados após a realização de uma festa na Fazenda Santa Margarida, no dia 27 de maio, para mais de 3,5 mil pessoas.
Em Campinas, o objetivo do poder público municipal é levantar o números de animais, identificando machos, fêmeas e filhotes, e, a partir do levantamento, executar uma campanha de castração, além de colocar microchip em todos eles. O objetivo é controlar a população das capivaras da cidade, onde, assim como o Recife, se reproduz facilmente e ocupam áreas públicas. Na capital pernambucana, os animais costumam ser vistos nas margens do Rio Capibaribe.
Em dois dos seis lugares em que será feito o censo, a força-tarefa da prefeitura já identificou 76 capivaras. Na Lagoa do Taquaral, os pesquisadores contabilizaram 48 animais em dois grupos. Outros dois grupos foram vistos no Lago do Café, mas reúnem um número menor de indivíduos, 28 no total. O levantamento também será feito em quatro parques, os das Águas, Jambeiro, Ecológico Hermógenes de Freitas Leitão Filho e Ecológico Monsenhor Emílio José Salim.
Em nota, a Secretaria Municipal do Verde da cidade frisou que as capivaras, por serem animais selvagens, são protegidas por lei federal. As capivaras, segundo o comunicado, são um dos principais hospedeiros do carrapato-estrela, que transmite a doença. “Podem contrair a bactéria que causa a febre maculosa quando são parasitadas por carrapatos-estrela infectados, desenvolvendo grande número de bactérias, o que permite que outros carrapatos contraiam a bactéria quando se alimentam do seu sangue”, esclarece a secretária.
Especialistas em saúde explicam que a relação entre a capivara, o carrapato e a Rickettsia rickettsii, bactéria que transmite a febre maculosa, é cíclica. A capivara pega a doença, ao ser picada por um carrapato contaminado, e dá início a um período de infecção. No entanto, o roedor não apresenta sintomas da doenaça e contamina outros carrapatos neste período, que, por sua vez, contraem a bactéria e contaminam outras capivaras.
Agente foi descoberto há dez anos
Foi a equipe do pesquisador da Embrapa Renato Andreotti que detectou, há dez anos, o agente causador da febre maculosa brasileira (FMB), por meio de diagnóstico molecular, no Mato Grosso do Sul. O agente da FMB, a bactéria Rickettsia rickettsii, é transmitida pelo carrapato- estrela, de nome científico Amblyomma sculptum). O patógeno exige a adoção de medidas de saúde pública.
“Esses animais não são os vilões e o contato com eles, ou mesmo transitando nos locais onde habitam, pode ocasionar uma picada por um carrapato infectado (larvas, ninfas – conhecido como ‘micuins’) principalmente e, assim, se contrai a febre maculosa”, frisa Andreotti.
O carrapato-estrela é uma espécie que, por meio de sua picada, é capaz de infectar os seres humanos com a bactéria. Existem pelo menos outras quatro espécies de carrapatos relatadas com a circulação do agente na natureza, mas que não picam o ser humano com frequência.
Ao cair no solo, explica o parasitologista, uma fêmea do carrapato-estrela é capaz de fazer a postura de cinco a oito mil ovos que se transformam em larvas. “Durante um simples piquenique no parque, milhares de carrapatos podem subir em uma pessoa. A bactéria pode ser transmitida caso o indivíduo seja picado por quatro horas contínuas pelo carrapato contaminado”, detalha.
Ele explica que o parasita também transmite vírus e outros agentes potencialmente patogênicos e que, ao picar alguém, o carrapato não apenas suga o sangue, mas injeta substâncias para evitar a reação do organismo do hospedeiro. “Quando faz isso, ocorre uma imunossupressão no local da picada que facilita o desenvolvimento dos agentes transmitidos,” relata. (Agência Embrapa)
Cuidados para evitar contaminação
De julho a novembro, as larvas e as ninfas aparecem e uma série de tratamentos carrapaticidas, com base nas especificações do fabricante, a intervalos semanais deve ser realizada nos animais. Nos meses mais quentes ocorre a predominância dos adultos, quando o controle pode ser realizado com carrapaticida ou a retirada manual dos carrapatos e depositados em álcool 70%. Também se deve roçar os pastos próximo ao solo, para que o sol possa aumentar a temperatura e diminuir a umidade no ambiente, reduzindo o tempo de vida do carrapato.
Para evitar a possibilidade de contaminação, Renato Andreotti, acrescenta a necessidade de se alguns cuidados para reduzir a possibilidade de picada e a fixação dos carrapatos nos seres humanos. Entre os cuidados, para quem trabalha no campo, ele aponta o uso de roupas claras, camisa de manga comprida e botas de cano longo com a proteção de fita adesiva entre a calça e a bota, além da retirada imediata dos carrapatos após o término das atividades.
Outra orientação é que, sete dias após o contato com carrapatos, caso apareçam sintomas de gripe forte (febre, desânimo e dores no corpo), falta de apetite e/ou manchas na pele, a pessoa deve procurar um médico e informar sobre o contato com carrapato. (Agência Embrapa)
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