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Saída para crise dos fertilizantes está em pesquisas e parcerias

Fertilizante desenvolvido por um pesquisador brasileiro utiliza casca de ovo e rejeitos da telha do amianto

Publicado: 16/03/2022 às 05:40

/Paulo Lanzetta/Embrapa

(Paulo Lanzetta/Embrapa)


A corrida do governo federal para evitar um desabastecimento de fertilizantes se justifica nas importações brasileiras. De acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) cerca de 22% dos fertilizantes importados em 2021 tiveram como origem a Rússia, seguido da China, 15%, e do Canadá, 10%. Sem o produto russo, por conta da guerra com a Ucrânia, a possibilidade de queda na produção agrícola é real. Para impedir isso, o governo lançou o Plano Nacional de Fertilizantes na semana passada, que, segundo analistas, pode não trazer resultados imediatos. Daí, a necessidade de novos parceiros comerciais e do desenvolvimento de produtos nacionais.

Entre as apostas locais está a pesquisa para a produção de um fertilizante ecológico à base de casca de ovos da reutilização das telhas de amianto. “Utilizamos resíduos que não são usados, como as cascas de ovos, ricas em cálcio, ou amianto, que é um resíduo tóxico”, disse o pesquisador Roger Borges, da Embrapa Instrumentação, acresentado que o produto está sendo desenvolvido “com o objetivo de venda no mercado”.

Os estudos foram realizados no Laboratório de Química de Materiais Avançados (Laqma) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), tendo os pesquisadores já entrada com dois pedidos de patentes junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). Uma das patentes envolve o tratamento do amianto, produto banido da produção de telhas por ser considerado maléfico à saúde, outra o uso da casca de ovos para a produção de fertilizantes ecológicos.

A técnica utiliza um processo de moagem mecanoquímico, explicou Borges. Nele, os materiais reagem para formar novos produtos por meio da energia térmica e de fricção da própria moagem. A casca do ovo é colocada em um moinho de esferas de alta energia, juntamente com fosfatos de potássio, que reagem para formar compostos capazes de fornecer fósforo, cálcio e potássio, essenciais para o desenvolvimento das lavouras, informou a universidade.

A forma industrial proposta pelos pesquisadores para produzir fertilizante ecológico é usar mais de um componente. “A composição principal, tanto do amianto, quanto da casca de ovos, é carbonato de cálcio”, explicou Borges. A produção prevê misturar casca de ovos com amianto e outros elementos, como fosfato de potássio. “No final, a gente tem um fertilizante que poderá ser usado e não representa nenhum perigo, igual ao feito com amianto, por exemplo”. Segundo o pesquisador, caso usado sozinho, o amianto precisa ser moído.

Borges afirma que a utilização dos fertilizantes ecológicos reduz os custos, por ter um aproveitamento melhor e, consequentemente, ser usado em menor quantidade do que os fertilizantes tradicionais para a garantir a mesma produção agrícola. Ainda, segundo ele, existem vantagens ambientais, como a reutilização de materiais não descartáveis, como o amianto, que por sua toxicidade requer aterros próprios para sua estocagem ou é jogado em lixões.

Peso dos fertilizantes é de 38% em Cascavel, no ParanáEm 2021, as importações brasileiras de adubos e fertilizantes químicos somaram R$ 15,2 bilhões, um aumento de 90% a mais em comparação a 2020.  Ao todo, 41,5 milhões de toneladas, um crescimento de 22%. Com a guerra entre Rússia e Ucrânia, o governo federal planeja aumentar a parcela de importação do Canadá, o que levou a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, a viajar para este país no último sábado. (Da Redação com Agência Brasil)

Custos podem chegar a 40%

Os fertilizantes representam entre 30% e 40% dos custos variáveis das lavouras, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O valor depende da região produtora e do produto analisado, para as culturas de soja, milho e trigo.

“Este percentual contempla os valores praticados até fevereiro. O conflito entre Rússia e Ucrânia teve início no final do mês passado. Com isso, o impacto, tanto nos preços recebidos pelos produtores como nos valores pagos pelos insumos, será melhor mensurado a partir das apurações a serem realizadas ao longo de março”, pondera o gerente de Custos de Produção da Conab, Rodrigo Souza.

No caso do trigo, os fertilizantes representam cerca de 33% dos custos variáveis em Passo Fundo (RS), enquanto que em Cascavel (PR) o percentual chega a 38%. Para o milho segunda safra, o peso destes insumos chega a 33% em Sorriso (MT). Já no cultivo de soja no município mato-grossense o percentual de participação dos fertilizantes atinge um índice de 37%.

“Qualquer aumento nos preços de fertilizantes impacta de maneira significativa nos custos para os produtores, que tende a influenciar as cotações dos produtos finais disponibilizados ao consumidor”, reforça Rodrigo Souza. De acordo com ele, “mesmo com essa elevação nos valores de comercialização do grão, as margens bruta e líquida para os agricultores seguem uma tendência de queda, dada a dificuldade de repasse entre a produção e o varejo”.
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