Mídias revelam que governo da Hungria espionou a União Europeia
O governo de Viktor Orbán teria usado Gabinete de Informação na espionagem da União Europeia
Publicado: 09/10/2025 às 18:38

Primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán (Foto: TOBIAS STEINMAURER / APA / AFP)
Diversas mídias, que realizaram uma investigação jornalística em conjunto, revelaram hoje que a Hungria espionou as instituições europeias entre 2012 e 2018 para ser informada antecipadamente de qualquer medida suscetível de prejudicar os seus próprios interesses.
Segundo a investigação publicada pelo Direkt36 da Hungria, o Der Spiegel e o Paper Trail Media da Alemanha, o Standard da Áustria e o jornal De Tijd da Bélgica, o governo de Viktor Orbán usou o seu Gabinete de Informação na espionagem da União Europeia. Há dez anos, com Órban cada vez mais em desacordo com a Comissão Europeia, o serviço secreto húngaro, o Gabinete de Informação, enviou os seus agentes para a representação permanente da União Europeia. Oficialmente eles tratavam, por exemplo, de assuntos financeiros e econômicos, no entanto eram usados para uma espionagem interna nas instituições do bloco.
"Todos os cidadãos húngaros que trabalhavam na Comissão e que tinham valor potencial em matéria de informações foram considerados um alvo de recrutamento e foram elaborados os seus perfis. Sendo ordenado que eles promovessem a fuga de informações sensíveis e que influenciassem os relatórios da Comissão", explicou o centro de investigação húngaro Direkt36.
"Reescrever isto, suprimir aquilo", contou um deles ao Direkt36, com o objetivo de que os textos refletissem a visão do Governo de Orbán. Na época dos acontecimentos, a representação húngara era chefiada por Oliver Varhelyi, que se tornou comissário europeu em 2019. "Ele tinha certamente conhecimento das atividades de espionagem que foram executadas na sua embaixada e era ele próprio um dos usuários finais das informações recolhidas", de acordo com a reportagem do Direkt36, acrescentando que as atividades de espionagem se tornaram particularmente agressivas durante o período em que Varhelyi foi o embaixador na UE.
Os meios de comunicação também apontaram que, sob cobertura diplomática junto da representação oficial da Hungria em Bruxelas, diplomatas fictícios tinham abordado esses funcionários da União Europeia (UE) de origem húngara. Em troca, Budapeste oferecia dinheiro ou ajuda para a progressão na carreira a funcionários europeus de nacionalidade húngara. Eles chegaram a abordar funcionários húngaros da Comissão Europeia para que partilhassem informações internas, como atas de reuniões com diplomatas com estatuto secreto, em troca de dinheiro. Para o efeito, os funcionários da UE chegaram mesmo a assinar (supostamente) documentos que os tornavam "colaboradores secretos" do serviços de inteligência da Hungria.
Além disso, uma das áreas mais importantes e sensíveis era ter acesso se haveria membros húngaros nos organismos da UE que tratavam de questões relacionadas com os meios de comunicação húngaros e se estes iriam criticar o governo de Orbán nos seus próximos documentos. Assim como um grande alvo de interesse eram os pontos referentes à política fiscal e o sistema de impostos.
O Direkt36 ainda detalhou a respeito de V. (o nome esta sob anonimato), que trabalhava em Bruxelas como um "diplomata disfarçado" no Ministério das Relações Exteriores da Hungria, mas na realidade era um membro do Gabinete de Informação. Entre 2012 e 2018, os agentes dos serviços secretos húngaros foram descuidados e espiavam abertamente, ou seja, não respeitavam as regras de segurança. Em 2017, V. foi exposto e com ele toda a rede de serviços secretos húngaros em Bruxelas ficou comprometida. Por outro lado, a carreira do agente V. não foi prejudicada pela sua exposição, uma vez que em 2024 publicou um artigo na revista do Serviço de Segurança Nacional Militar sobre os desafios atuais dos serviços de segurança nacional. Na revista, aparece como Major V e estudante de doutorado no Centro Nacional de Informação, uma autoridade para onde convergem as informações de todos os serviços secretos húngaros.
Em 2024, o Governo de Viktor Orbán inaugurou também uma "Casa Húngara", na capital belga, em frente ao gabinete do primeiro-ministro da Bélgica. No entanto, esse centro cultural é, segundo noticiou o grupo de investigação, visto como "um risco" pelos serviços secretos belgas. Desde a sua retomada ao poder em 2010, o líder ultranacionalista húngaro entra em conflito com as autoridades europeias, que o acusam de atentar contra o Estado de direito, uma situação que levou Bruxelas a instaurar uma série de processos contra a Hungria, incluindo o congelamento de milhões de euros de fundos europeus.
Até o momento, o Governo húngaro não se manifestou ao pedido de comentário da agência de notícias francesa France-Press (AFP) sobre as revelações das notícias na imprensa.
Já a Comissão Europeia afirmou hoje que analisa as acusações de espionagem da Hungria após a divulgação da investigação jornalística sobre o assunto. “O executivo europeu leva muito a sério estas alegações e continua determinado a proteger a Comissão, a sua equipe, as suas informações e as suas redes de qualquer recolha ilegal de informações. Trata-se de uma questão de segurança. Vamos criar um grupo interno para analisar estas alegações", disse Balazs Ujvari, porta-voz da Comissão Europeia.

