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FAIXA DE GAZA

Maioria do Conselho de Segurança da ONU critica Israel de usar fome como arma de guerra

Na reunião, os Estados Unidos negaram que Israel tenha em prática uma política de fome em Gaza

Isabel Alvarez

Publicado: 27/08/2025 às 19:56

Conselho de Segurança da ONU/LEONARDO MUNOZ/AFP

Conselho de Segurança da ONU (LEONARDO MUNOZ/AFP)

O Conselho de Segurança das Nações Unidas se reuniu e a maioria dos membros, com exceção dos Estados Unidos, condenou uma crise feita pelo Homem na Faixa de Gaza e votaram todos a favor do comunicado que avisa que há mesmo fome no enclave palestino, além de criticarem o governo de Israel de usar isso como uma arma de guerra. Na reunião focada na fome no enclave palestino, os Estados Unidos negaram que Israel tenha em prática uma política de fome em Gaza.

Os EUA foi o único membro permanente que se manteve incondicionalmente ao lado de Israel e se mantiveram contra todos os demais, mesmo os seus tradicionais aliados Reino Unido e França.

Em contrapartida, o comunicado conjunto foi assinado pelos 14 membros permanentes e rotativos do Conselho de Segurança, que pedem um cessar-fogo incondicional, imediato e permanente na Faixa de Gaza, a libertação de todos os reféns, e destacaram ainda que o uso da fome que assola a população como arma de guerra é algo proibido pelo Direito Internacional Humanitário, apelando que se faça alguma coisa em relação ao que continua a acontecer no território palestino e também que Israel suspenda todas as restrições à entrega de ajuda humanitária.

Tudo isto acontece após o Quadro Integrado de Classificação da Segurança Alimentar (IPC, na sigla em inglês) ter divulgado o relatório dos peritos e declarado oficialmente fome na Cidade de Gaza, alertando que o mesmo ocorrerá em breve no resto do território. Na semana passada, e pela primeira vez no Oriente Médio, a ONU declarou um cenário de fome em parte do território da Faixa de Gaza, que atinge cerca de 500 mil pessoas, e afirmou que a situação podia ter sido evitada se não fosse o bloqueio e a obstrução sistemática de Israel.

A embaixadora norte-americana junto da ONU, Dorothy Shea, acusou os autores do relatório de falta de credibilidade e integridade, apesar de reconhecer que há um problema real de fome em Gaza. Shea defendeu que os critérios que a ONU usa para declarar fome ‘não passam no teste’. A diplomata replicou ainda as mesmas acusações israelenses de que a ajuda humanitária cai frequentemente nas mãos de saqueadores do Hamas, uma alegação repetidamente negada pela ONU.

O embaixador de Israel junto à ONU, Danny Danon, disse que a reunião de hoje foi repleta de "mentiras" e alegou que o relatório sobre a fome em Gaza foi "fabricado" de forma a "demonizar" Tel Aviv. O Ministério das Relações Exteriores israelense ainda exigiu que as Nações Unidas retirem imediatamente o relatório que declarou oficialmente fome em Gaza e ameaçou que, se o mesmo não for removido, compartilhará provas da sua má conduta com todos os doadores da entidade.

Já o embaixador palestino na ONU, Riyad Mansour, desafiou Israel na reunião do Conselho de Segurança a deixar jornalistas internacionais a entrar em Gaza e os diplomatas que integram o Conselho de Segurança da ONU a se deslocarem ao enclave para constatarem a realidade. O desafio foi lançado por Mansour em resposta às alegações das autoridades israelenses que negam categoricamente a fome no enclave. Para o embaixador da Palestina junto a ONU se as declarações e relatórios das Nações Unidas, de trabalhadores humanitários, organizações não-governamentais (ONG), do Tribunal Internacional de Justiça e do Tribunal Penal Internacional não são suficientes para sanar as dúvidas sobre a real situação em Gaza, então Israel deve deixar entrar jornalistas estrangeiros no enclave e representantes do Conselho de Segurança da ONU devem ir ao local. "Se todas estas pessoas e tantos outros relatórios não convencem um número muito pequeno de pessoas sobre os fatos reais, e ainda acreditam que existe uma enorme coligação contra Israel, então porque é que vocês, o Conselho de Segurança, não vão a Gaza, se reúnem com toda a gente, investigam a situação, descobrem o que realmente se passa com o povo palestino, com as crianças, com as mães, com os idosos, com aqueles que estão morrendo de fome?", instou.

O embaixador, além disso, se referiu a Gaza como o "inferno na Terra", sendo o maior celeiro de dor, sofrimento, sangue, lágrimas e agonia.

O Conselho de Segurança da ONU é formado pelos Estados Unidos, China, Rússia, França e Reino Unido, que são membros permanentes, e tem atualmente outros 11 membros que estão no sistema rotativo, entre os quais, a Argélia, Dinamarca, Grécia, Guiana, Paquistão, Panamá, Coreia do Sul, Serra Leoa, Eslovênia e Somália.

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