Israel analisa resposta do Hamas à proposta de trégua em Gaza
Análise de Israel ocorre enquanto a pressão de organizações internacionais aumentam devido à fome na faixa de Gaza
Publicado: 24/07/2025 às 09:48
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Atualizado: 24/07/2025 às 09:50

Palestinos caminham pela rua Al-Rashid, no oeste de Jabalia, em 23 de julho de 2025, após receberem ajuda humanitária de um ponto de distribuição no norte da Faixa de Gaza. Mais de 100 organizações humanitárias alertaram, em 23 de julho, que a "fome em massa" estava se espalhando pela Faixa de Gaza e que seus próprios colegas estavam sofrendo gravemente com a escassez. (Foto de Eyad BABA / AFP) ( AFP)
Israel anunciou, nesta quinta-feira (24), que está analisando a resposta do Hamas à proposta de trégua de 60 dias na Faixa de Gaza, enquanto a pressão de organizações internacionais aumentam devido à fome no devastado território palestino.
No terreno, os bombardeios e disparos israelenses continuam, matando 22 palestinos, incluindo crianças e pessoas que aguardavam distribuição de ajuda, segundo a Defesa Civil local.
Desde 6 de julho, negociadores de ambos os lados mantêm conversas indiretas no Catar, tentando chegar a um acordo sobre uma trégua que permitiria inicialmente a libertação de dez reféns israelenses vivos em troca de um número não especificado de palestinos mantidos em Israel.
Mas as negociações, mediadas por Catar, Egito e Estados Unidos, têm se arrastado sem resultados até o momento, com cada lado acusando o outro de impor suas exigências.
"Os mediadores transmitiram a resposta do Hamas à equipe de negociação israelense, e ela está atualmente sob avaliação", afirmou um breve comunicado do gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Segundo uma fonte palestina próxima às negociações, a resposta inclui emendas às modalidades de entrada de ajuda humanitária, mapas das áreas de retirada do Exército israelense e garantias quanto ao fim definitivo da guerra, que se arrasta desde outubro de 2023.
Os reféns em questão foram capturados pelo Hamas durante seu ataque surpresa no sul de Israel em 7 de outubro de 2023, que desencadeou o conflito.
Israel continua a afirmar que seu objetivo é destruir as capacidades militares e de governo do movimento palestino. Sua ofensiva causou mais de 59.000 mortes, segundo autoridades em Gaza, governada pelo Hamas, e criou um desastre humanitário.
Witkoff em missão
Os Estados Unidos anunciaram que seu enviado especial, Steve Witkoff, viajará para a Europa esta semana para conversas sobre Gaza e que poderá, em seguida, viajar para o Oriente Médio.
O Departamento de Estado indicou que Witkoff realiza a viagem com "a firme esperança de que alcançaremos um novo cessar-fogo, além de um corredor humanitário" que permita o envio da ajuda necessária.
Segundo a imprensa israelense, o enviado americano estava na ilha italiana da Sardenha nesta quinta-feira.
Após impor um cerco total a Gaza em outubro de 2023, Israel restabeleceu o bloqueio ao território palestino no início de março, que foi parcialmente flexibilizado no final de maio.
Mais de dois milhões de habitantes de Gaza enfrentam grandes dificuldades para acessar alimentos, medicamentos e combustível.
"Crianças estão caindo ao caminhar devido à falta de comida", disse Salma Al Qadumi, jornalista da AFP, falando sobre seus três sobrinhos, de quatro a 12 anos.
Yusef Hasuna, jornalista da AFP que mora na Cidade de Gaza, também descreveu a "extrema dificuldade" para encontrar comida e água potável para ele e sua família.
As agências de notícias AFP, AP, Reuters e a emissora britânica BBC pediram a Israel nesta quinta-feira que "autorize a entrada e saída de jornalistas em Gaza", afirmando estarem "profundamente preocupadas com o fato de que agora a fome ameaça sua sobrevivência".
"Pessoas morrendo de fome em massa"
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou na quarta-feira que "grande parte" da população de Gaza sofre de fome.
"Não sei como chamar o que está acontecendo, além de dizer que há pessoas morrendo de fome em massa", declarou Tedros. Para a França, "o risco de fome" em Gaza é "resultado do bloqueio" imposto por Israel.
Na terça-feira, um hospital de Gaza declarou que 21 crianças morreram de fome e desnutrição nas últimas 72 horas.
"Enquanto o cerco do governo israelense mata de fome a população de Gaza, trabalhadores humanitários agora se juntam às mesmas filas de alimentos, correndo o risco de serem baleados apenas para alimentar suas famílias", disseram 111 organizações, incluindo Médicos Sem Fronteiras (MSF), Save the Children e Oxfam, em um comunicado conjunto na quarta-feira.
O governo israelense se defendeu, afirmando não ser responsável pela escassez de alimentos. Seu porta-voz, David Mencer, afirmou que "não há fome causada por Israel. É uma escassez causada pelo Hamas", que governa Gaza e, segundo ele, impede a distribuição de ajuda e saqueia parte dela. O Hamas sempre negou tais acusações.
Autoridades israelenses informaram nesta quinta-feira que cerca de 70 caminhões com ajuda humanitária foram descarregados no dia anterior nos pontos de entrada e "mais de 150 já haviam sido recebidos pela ONU e organizações internacionais em Gaza".
As agências humanitárias afirmam que as autorizações concedidas por Israel são limitadas e que coordenar o envio de caminhões é um desafio significativo em uma zona de guerra.
O ataque do movimento islamista a Israel em 7 de outubro de 2023 resultou na morte de 1.219 pessoas, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais.
A campanha militar israelense no território palestino matou 59.219 palestinos, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.
Os militantes também capturaram 251 pessoas em território israelense naquele dia, das quais 49 permanecem reféns em Gaza. Destes, acredita-se que 27 estejam mortos, segundo o Exército.

