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COLUNA BETO LAGO

Beto Lago: 'A comunicação desastrosa dos dirigentes pernambucanos'

"O jogo pode ser coletivo, mas a comunicação continua sendo um exercicio de vaidade individual"

Beto Lago

Publicado: 20/10/2025 às 09:16

Yuri Romão, presidente do Sport/Paulo Paiva/Sport Recife

Yuri Romão, presidente do Sport (Paulo Paiva/Sport Recife)

Retórica que afunda
O futebol brasileiro é um campo minado de paixões, efervescência e, inegavelmente, um palco de crises constantes. Se os problemas dentro das quatro linhas são visíveis – de esquemas táticos defasados a gramados precários –, há uma falha estrutural, frequentemente ignorada, que mina a credibilidade do esporte: a comunicação desastrosa dos seus dirigentes. Não se trata apenas de uma questão de timing ou de escolher as palavras erradas, mas sim de uma postura arraigada que troca a transparência por um discurso defensivo, agressivo e, muitas vezes, rancoroso. O seu ponto é cirúrgico: a simples e humana admissão de falha tem o poder de desarmar crises, mas é um ato de coragem e humildade que parece extinto nos gabinetes e salas de coletiva. A comunicação no futebol brasileiro opera, historicamente, sob a lógica do confronto. A tal “Nota Oficial”, em vez de ser um instrumento de informação ou esclarecimento, muitas vezes se transforma em um libelo acusatório, redigido em tom de ódio e ressentimento. O foco migra da explicação para o ataque a terceiros – árbitros, imprensa, federações, adversários ou até mesmo a própria torcida. O resultado é um ciclo vicioso: a nota gera mais polêmica, desvia o foco do problema real (falta de planejamento, má gestão, resultados ruins) e acentua a polarização.

Desconexão com a realidade
As entrevistas coletivas e exclusivas se tornam momentos de desconexão com a realidade. O dirigente, sob pressão, se arma com arrogância e adota postura de autoridade inquestionável, minimizando erros evidentes ou criando narrativas que beiram o absurdo. Essa retórica vazia não convence, irrita torcedores e oferece munição fácil para a justa crítica. E assim, a comunicação que poderia apaziguar a crise vira combustível para ampliá-la. E vem a ironia: o jogo é coletivo, mas a comunicação continua sendo um exercício de vaidade individual.

Erro na mensagem
Nesta questão sobre a clareza na comunicação, vejo que o presidente do Sport, Yuri Romão, cometeu um erro ao afirmar que a Ilha do Retiro não comporta grandes jogos (“Pode haver uma desgraça”). Declaração mina a credibilidade do patrimônio do clube, abre possibilidade para os rivais colocar como inviável atuar no estádio leonino e transforma os R$ 10 milhões investidos na reforma em símbolo de desperdício e má gestão.

Destino cada vez mais próximo
O Sport teve mais posse, criou mais e jogou quase todo o tempo no campo do Inter. Mas segue a sina cruel desta Série A: joga como nunca, perde como sempre. O que afunda é a limitação técnica de boa parte do elenco, que destrói a confiança do torcedor. O sistema defensivo é um desastre recorrente. Nos dois gols do Colorado, a marcação dormiu, tanto nas laterais quanto no miolo de zaga. Na frente, falta precisão e qualidade. Falta quem decida. Alguns até se desdobram, mas são engolidos pela mediocridade ao redor. Mais uma derrota, e o caminho do Leão para a Série B já não é ameaça. É destino anunciado.

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