Em meio a protestos, novo primeiro-ministro francês promete romper com o passado
Sébastien Lecornu é o quinto chefe de governo desde 2024
Publicado: 10/09/2025 às 16:52

Primeiro-ministro francês, Sébastien Lecornu (LUDOVIC MARIN / POOL / AFP)
O novo primeiro-ministro francês, Sébastien Lecornu, prometeu nesta quarta-feira (10) uma "ruptura" com seus predecessores, ao assumir como quinto chefe de governo desde 2024, em meio a protestos contra o presidente Emmanuel Macron que deixaram centenas de detidos.
As primeiras horas de Lecornu no cargo foram marcadas por bloqueios e manifestações, organizados através das redes sociais, que resultaram em 473 detenções, quase a metade em Paris, segundo as autoridades.
Várias cidades registraram confrontos com a polícia, que utilizou gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes. Em Paris, um edifício pegou fogo possivelmente de forma involuntária durante uma intervenção policial, segundo a promotoria.
Os quase 175 mil manifestantes na França, de acordo com números oficiais, reivindicaram "serviços públicos que funcionem, mais impostos para os ricos e menos para os pobres, uma distribuição mais justa da riqueza", resumiu Jean-Baptiste, um trabalhador de 30 anos que protestava em Paris.
O estopim foi o plano orçamentário para 2026 que o ex-primeiro-ministro François Bayrou queria aprovar antes de se derrubado na segunda-feira pelo Parlamento. O projeto previa cortes de 44 bilhões de euros (R$ 280 bilhões) e a supressão de dois feriados.
A principal missão de seu sucessor será elaborar esse orçamento, levando em conta que não existem maiorias no Parlamento para sanear as contas públicas, com uma dívida que gira em torno de 114% do PIB.
"Serão necessárias rupturas e não apenas na forma (...), também no conteúdo", afirmou Lecornu durante a cerimônia de transferência de poder, deixando entrever uma possível mudança nas políticas e nas formas de governar desde a eleição de Macron em 2017.
"Tapa na cara"
Sem dar detalhes, o político de 39 anos prometeu ser "mais criativo" e "mais sério na forma de trabalhar com as oposições". "Nós conseguiremos", "nenhum caminho é impossível", acrescentou.
O governo não tem maioria estável desde 2024, quando Macron abriu uma profunda crise política com um fracassado adiantamento eleitoral que deixou a Assembleia Nacional (Câmara baixa) dividida em três blocos: esquerda, centro-direita governista e extrema direita.
Desde então, os deputados derrubaram os governos do conservador Michel Barnier em dezembro e do centrista Bayrou na segunda-feira. O centrista de direita Lecornu, homem de confiança de Macron, também não parece convencer.
Cerca de 69% dos franceses acreditam que sua nomeação "não corresponde às expectativas", segundo uma pesquisa da Odoxa-Backbone. "É um tapa na cara que o presidente está nos dando", afirmou à AFP Florent, um manifestante em Lyon.
Como demonstração do novo "método" que quer aplicar, Lecornu poderia aceitar uma das reivindicações da esquerda: um aumento da tributação sobre as grandes fortunas, para tentar garantir o apoio dos socialistas, segundo uma fonte próxima ao presidente.
Mas será suficiente? O partido de extrema direita de Marine Le Pen assegurou que não derrubará o governo imediatamente, mas espera uma "ruptura" com a política conduzida até agora, segundo seu presidente Jordan Bardella.
"Revolucionários no Facebook"
A esquerda radical anunciou, por sua vez, uma moção de censura, que se soma à já apresentada para destituir Macron, sem perspectivas de avançar. Muitos dos participantes nos protestos também exigiram a saída do presidente francês.
Desde a madrugada, Paris e outras cidades registraram bloqueios esporádicos de estradas e de liceus, bem como interrupções em algumas linhas de trem, entre outros.
Embora as autoridades, que mobilizaram 80 mil agentes, temessem um movimento como o dos "coletes amarelos" (2018-2019), que abalou o primeiro mandato de Macron, as ações do "Bloqueemos tudo" foram mais limitadas.
"Pensávamos que seríamos mais numerosos", confessou Cédric Brun, um operário sindicalista em Valenciennes, no norte da França. "Há mais revolucionários no Facebook do que na vida real", lamentou.
A pressão continuará nos próximos dias. Na sexta-feira, a agência Fitch deve anunciar se rebaixa a nota da dívida soberana da França. E os sindicatos convocaram uma greve "massiva" para 18 de setembro.

