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Economia
BOLSA DE VALORES

'Efeito Flávio 2026' derruba Ibovespa, em queda de 4,31%, a maior desde 2021

Mercado, que tem acolhido Tarcísio de Freitas, vê candidatura de Flávio como uma aposta 'muito arriscada'

Estadão Conteúdo

Publicado: 05/12/2025 às 19:16

Senador Flávio Bolsonaro/Bruno Peres/Agência Brasil

Senador Flávio Bolsonaro (Bruno Peres/Agência Brasil)

Do céu ao abismo, a volatilidade extrema deu o tom aos ativos brasileiros nesta última sessão da semana, em que o Ibovespa viu a gordura acumulada no intervalo, superior a 3% até o início da tarde, minguar e ao fim se transformar em perda de 1,07% em função do temor despertado por um nome associado a um cenário: o senador Flávio Bolsonaro, ungido pelo pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, como desafiante ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição de 2026. Uma aposta muito arriscada e seguramente perdedora, na visão do mercado, que tem acolhido o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, como a opção liberal mais forte para buscar o Planalto em 2026, e executar um ajuste fiscal crível a partir de 2027.

Assim, após ter tocado novo recorde intradia, pela primeira vez aos 165 mil pontos, ainda no início da tarde o Ibovespa deu um cavalo de pau e passou a cair, retrocedendo à linha de 162 mil em poucos minutos, então nas mínimas da sessão, com o que a princípio poderia ser um rumor negativo, veiculado por um portal de notícias. Antes mesmo da confirmação oficial, o Ibovespa seguia buscando novas profundezas. No pior momento, já no fim da tarde, lia-se 157.006,61 pontos, uma variação de 8 mil pontos entre os extremos do dia. O piso foi renovado continuamente desde o anúncio, pelo próprio senador, de que o relato inicial é fato: será o candidato do pai em 2026. "Me coloco diante de Deus e do Brasil."

Assim, vindo de níveis recordes de fechamento nas três sessões anteriores, e com giro muito reforçado, a R$ 44,3 bilhões (pouco visto fora dos dias de vencimento de opções sobre o índice), o Ibovespa caiu 4,31%, aos 157.369,36 pontos, no que foi o maior tombo desde 22 de fevereiro de 2021 (-4,87%), no período ainda da pandemia. Ou seja, a perda do índice superou inclusive a de 8 de setembro de 2021 (-3,78%), no dia seguinte à promessa do então presidente Bolsonaro, no 7 de setembro na avenida Paulista de que não cumpriria mais determinações do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

No ano, o Ibovespa ainda avança 30,83%, após a correção desta sexta-feira, 05.

Em paralelo, o dólar à vista buscou máximas da sessão, também em larga amplitude entre a mínima vista mais cedo, na casa de R$ 5 29, e o pico do dia, na de R$ 5,48. Ao fim, marcava alta de 2 29%, a R$ 5,4318. O ponto de virada foi a notícia publicada pelo portal "Metrópoles", antecipando que o ex-presidente Jair Bolsonaro teria confirmado a interlocutores a decisão de que o senador Flávio Bolsonaro será o seu candidato na disputa presidencial de 2026 - o que enfraqueceria a opção Tarcísio de Freitas, o candidato da direita preferido do mercado, observa o operador da mesa institucional da Renascença, Luiz Roberto Monteiro.

O líder do PT na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias (RJ), avalia que a escolha do filho do ex-presidente é um movimento "mais do que previsível da família". "Sabem que é praticamente impossível derrotar Lula, mas querem manter o protagonismo da oposição para o futuro", escreveu o deputado em seu perfil no X.

Na visão do parlamentar, uma candidatura do governador de São Paulo à presidência em 2026 "seria o beijo da morte para a família Bolsonaro". "Os marqueteiros do Tarcísio e do Centrão iriam trabalhar para esconder e construir uma política de apagamento do Bolsonaro. Ele seria esquecido na prisão", avalia Farias.

Ainda assim, "o mercado não esperava esse movimento ao menos no atual momento e reagiu de forma imediata, descolando o Brasil de Nova York, onde as bolsas seguiam em alta moderada" nesta tarde, aponta Christian Iarussi, economista e sócio da The Hill Capital. Ao fim, Dow Jones +0,22%, S&P 500 +0,19% e Nasdaq +0 31%.

"A leitura dominante é de que esse anúncio esvazia a expectativa antes bastante presente entre investidores, de que Tarcísio de Freitas pudesse se consolidar como uma alternativa competitiva ao atual governo em 2026. Sem o apoio explícito de Bolsonaro, a probabilidade de Tarcísio optar pela reeleição em São Paulo aumenta, e isso reduz o campo para uma disputa presidencial equilibrada", acrescenta.

A decisão de Jair Bolsonaro foi vista "como um desvio do cenário que os investidores tratavam como o mais provável, o de Tarcísio de Freitas liderando a oposição", diz João Duarte, sócio da One Investimentos. "Hoje [sexta], as pesquisas mostram Tarcísio como o único nome competitivo contra Lula, e é essa previsibilidade que o mercado precificava", enfatiza. "Quando surge a possibilidade de um nome mais fraco eleitoralmente, e com menos aderência ao centro político, o mercado reage ajustando prêmio de risco", acrescenta Duarte.

"A semana caminhava para ser bem positiva, mas o cenário político acabou prevalecendo ao fim, o que deixou em segundo plano o grande evento da semana, e que dava impulso ao Ibovespa até então: a expectativa por juros mais baixos nos Estados Unidos, na semana que vem, em função dos mais recentes dados econômicos divulgados por lá", diz Rachel de Sá, estrategista de investimentos da XP.

"Sem Tarcísio para 2026, a direita chega dividida e enfraquecida para bater de frente com Lula na disputa presidencial. Tarcísio, de fato e sem dúvida, era o candidato preferido do mercado, que já começa a precificar a chance, aumentada, de o atual presidente ser reeleito", resume Daniel Teles, especialista da Valor Investimentos.

Nesse contexto de retomada da aversão a risco, apenas quatro dos 82 papéis da carteira Ibovespa conseguiram escapar da correção e encerrar o dia no campo positivo, com destaque para exportadoras ou empresas com exposição à demanda externa, como WEG (+2,64%), Suzano (+1,94%) e Klabin (+1,47%), à frente de Braskem (+0,77%) no fechamento. Na ponta perdedora, ações com exposição ao ciclo doméstico e a juros, como Yduqs (-10,84%), Azzas (-9,96%) e Cyrela (-9,90%).

As principais blue chips também mostraram correção significativa na sessão, como Petrobras (ON -4,48%, PN -3,54%, ambas nas mínimas do dia no fechamento), Vale (ON -2,36%) e Itaú (PN -4 62%). No setor financeiro, o de maior peso no Ibovespa, destaque para a queda de 7,07% em Banco do Brasil ON, na mínima do dia no fechamento, e BTG (Unit -7,91%).

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