Copom mantém taxa básica de juros em 15% ao ano
Especialista avalia que manutenção da taxa básica de juros num patamar elevado é prejudicial ao país e afeta a economia brasileira
Publicado: 05/11/2025 às 21:06
A Selic está em 15% desde o fim de junho e esta é a terceira vez consecutiva que o BC mantém a taxa (Foto: Marcello Casal JrAgência Brasil)
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu, nesta quarta-feira (5), manter a taxa básica de juros em 15% ao ano. Na visão do economista Paulo Feldmann, professor de economia da Universidade de São Paulo (USP), a decisão, que foi tomada de forma unânime, é prejudicial para o país porque afeta a economia brasileira como um todo.
Segundo o economista, a permanência da alta taxa favorece o aumento da dívida pública. “Este ano, o governo federal vai está pagando R$ 1 trilhão de juros. Isso é um absurdo. Essa é a principal razão para o aumento da dívida brasileira, porque é claro que o governo não tem esse dinheiro para desembolsar”, disse Feldmann.
Na visão do economista, a permanência da taxa Selic em 15% ao ano cria uma expectativa do mercado de que a taxa sempre será alta. “Isso é uma coisa muito ruim para a economia como um todo. É algo que virou crônico no Brasil”, disse.
Feldmann aponta ainda que não faz sentido o Brasil ter a taxa real de juros entre as mais altas do mundo. O juros real é o resultado da taxa Selic descontada a inflação. “A inflação no Brasil, hoje, está em torno de 4,5%, então a taxa real é de 10%. Essa taxa é a mais alta ou a segunda do mundo. Isso não tem cabimento para um país como o Brasil, que está estável, com uma economia bem organizada e que não está em uma crise”, disse.
O economista destaca ainda que não há justificativa para a manutenção da taxa em 15% ao ano. “A inflação brasileira hoje está praticamente dentro da expectativa das metas. A meta era 4,5%, e a inflação está em torno de 4,7%, então essa taxa é completamente fora de propósito”, reforça.
A Selic está em 15% desde o fim de junho e esta é a terceira vez consecutiva que o BC mantém a taxa. Na última reunião, realizada em setembro, o Comitê informou a permanência da taxa de juros a 15% ao ano por tempo prolongado.
Na visão do economista, o correto seria o Banco Central começar a redução da taxa Selic gradualmente “porque a inflação não está ameaçando crescer”. “Não temos ameaça de inflação, não temos ameaça de nada pela frente. Eu acho que a taxa tinha que baixar, começar gradualmente, talvez 14,5% ou 14%, até chegar no patamar adequado”, afirma.
Segundo ele, o patamar adequado é o que todos os países do mundo consideram, de 1% a 2% acima da inflação esperada. “No caso dos países desenvolvidos, se eles têm uma inflação esperada de 2% ou 3%, eles colocam a taxa de juros deles em torno de 4% ou 5%. No Brasil, para 4,5%, que é a inflação hoje, a nossa taxa de juros deveria ser da ordem de 6,5, 7% ao ano, ou no máximo 8%”, aponta.
Perspectiva para o fechamento de 2025
Na visão de Feldmann a expectativa para a última reunião do Copom, que deve ocorrer em dezembro, ainda é incerta. “O Banco Central não sinalizou absolutamente nada de quando começará a redução da taxa. Na minha opinião, isso é muito grave, porque desencadeia uma espécie de perpetuidade da taxa de Selic alta no país. Isso ocorre por causa do poder desmesurado do setor financeiro e os rentistas que querem essa taxa alta, porque não há uma explicação econômica”, analisa.