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Inteligência Artificial, Sun Tzu e a proeminência da Ásia como indutor da economia global

Pegando carona no caso da China, vemos que a razão de sua exuberância tecnológica em IA advém da resiliência na consecução do Plano de Desenvolvimento da IA de Nova Geração, de 2017

Mauro Souza

Publicado: 23/12/2025 às 07:38

O continente asiático caminha a passos largos rumo à dianteira do comércio internacional./Foto: vecstock/freepik

O continente asiático caminha a passos largos rumo à dianteira do comércio internacional. (Foto: vecstock/freepik)

Pegando carona no caso da China, vemos que a razão de sua exuberância tecnológica em IA advém da resiliência na consecução do Plano de Desenvolvimento da IA de Nova Geração, de 2017, e da iniciativa Made in China 2025, entabulada em 2015. Esses direcionamentos foram traçados e postos em marcha com o intuito de tornar o país um dos líderes em IA até 2030 e, por decorrência, catapultar a relevância chinesa no comércio internacional — seja por intermédio do incremento de produtividade, seja pelo ganho escalar de qualidade.

Os Emirados Árabes Unidos (EAU), em 2017, lançaram a Estratégia Nacional de IA 2031, que se transformou na estrutura mestra do país para integrar a IA a todos os setores da sociedade até 2031. Nesse diapasão, os EAU adentraram a corrida global da IA, entendendo tratar-se de uma janela de oportunidade para diversificar sua economia em um futuro pós-petróleo.

Na Coreia do Sul, a base temporal dos planos para a evolução da IA estende-se de 2019 até 2030. O país estruturou e lançou planos ambiciosos e bilionários para se tornar uma das três maiores potências globais em IA, priorizando a captação de investimentos destinados à produção de semicondutores e à implementação generalizada da IA na indústria, bem como nas cadeias produtivas e de logística.

O Japão, em linha com o encaminhamento de outras nações asiáticas — e diferente da abordagem adotada pela União Europeia —, também optou por uma regulamentação da IA mais indutora, menos punitiva e centrada em ações de longo prazo, destinadas a prover ganho de produtividade e expansão da presença no cenário internacional. A primeira estratégia nacional japonesa para a IA foi a Estratégia de Tecnologia de Inteligência Artificial, anunciada em março de 2017. Ela foi instruída pelo então primeiro-ministro Shinzo Abe e teve como foco principal a pesquisa e desenvolvimento (P&D) e a integração da IA na estrutura industrial do país.

Na Índia, a principal iniciativa frente à IA intitula-se Missão India AI e foi lançada em março de 2024, com base temporal de cinco anos. Os pilares centrais da estratégia são a expansão da infraestrutura, o financiamento de startups, o desenvolvimento e a atração de talentos e a priorização de aplicações de impacto social — com o intuito de mitigar problemas de saúde, educação e governança do país mais populoso do mundo, que, uma vez tratados, impulsionarão a economia local.

As ações engendradas na China, Japão, Coreia do Sul, Singapura, Índia e Emirados Árabes Unidos, entre outros, possuem em comum a marca do planejamento de longo prazo, com a lupa direcionada para a pesquisa em IA, a inovação, a disciplina da regulamentação, a captação de investimentos privados, a proliferação de startups, a liderança no refino de recursos naturais — em especial as terras raras —, a fabricação de semicondutores avançados, a propagação da IA nas cadeias produtivas e de logística, o aporte de recursos em estruturas de data centers e, em lugar de destaque, a qualificação contínua do capital humano.

Todas as estratégias de proeminência em IA conduzidas pelos países asiáticos assinalados possuem como meta central o aumento da participação no comércio internacional. A resiliência dessas nações, advinda da consecução de planos e estratégias de longo prazo destinados a promover a prosperidade, corrobora a supremacia asiática quando o assunto é a condução de programas de Estado — em detrimento de desejos imediatistas e epifanias de governos de plantão.

Nos próximos anos, e considerando os planos em marcha, a tendência asiática será consolidar uma visão mais estrutural para a IA, que deixará de ser vista como uma tecnologia independente para se tornar uma infraestrutura de alta capacidade de transformação. A IA será a camada invisível que sustentará a próxima fase da transformação industrial, consolidando-se como o maestro da Ásia, ao assumir a responsabilidade por redefinir a produtividade e a dianteira no comércio internacional.

Reitero a percepção de que esse viés asiático de inserção planejada da IA nos diversos setores da economia não produzirá um colapso do Ocidente, mas sim um equilíbrio — e, sob certos aspectos, até mesmo uma mudança do polo indutor — da influência dos Estados Unidos e da Europa.

O ranking de IA dos 36 países avaliados pela Global AI Vibrancy Tool, de Stanford (relatório 2024/2025), reflete bem a realidade asiática frente ao restante do mundo. Liderado pelos Estados Unidos, o relatório revela seis países asiáticos entre os dez mais bem posicionados em IA no que tange a custo/eficiência, impacto econômico e social, criação de empregos, produtividade e progresso técnico. A China ocupa a segunda posição; a Índia, a quarta; os Emirados Árabes Unidos, a quinta; a Coreia do Sul, a sétima; o Japão, a nona; e Singapura, a décima. Simples assim.

O continente asiático caminha a passos largos rumo à dianteira do comércio internacional. As nações aqui referenciadas apostam em estratégias de longo prazo para a IA, seguindo a filosofia central de Sun Tzu, em A Arte da Guerra: “A importância do planejamento (estratégia) é fundamental, pois a vitória é determinada muito antes de qualquer batalha começar”.

Mauro Souza - Engenheiro elétrico com pós-graduação em robótica e mestrado em telecomunicações.

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