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Chanuká e Natal — luzes e esperança

Muitas tradições e festividades cristãs têm origem no judaísmo, berço das grandes religiões monoteístas

Jacques Ribemboim

Publicado: 19/12/2025 às 09:31

Chanuká e Natal – luzes e esperança/Foto: freepik

Chanuká e Natal – luzes e esperança (Foto: freepik)

Muitas tradições e festividades cristãs têm origem no judaísmo, berço das grandes religiões monoteístas. Não poderia ser diferente, haja vista que Jesus era judeu, assim como toda a sua família, parentes e apóstolos. Portanto, há de se compreender o paralelo existente entre tantas celebrações, que coincidem nas datas, mas são reinterpretadas em conteúdo. Ao procurarmos em sites de I.A., contudo, dão como certas as origens pagãs, de culto a solstícios e mudanças de estação — lembrando, porém, que nenhuma festividade greco-romana conseguiu manter-se em nossos dias.

Comecemos com o carnaval, que tem inspiração no Purim, a festa da Rainha Ester, anualmente celebrada entre os meses de fevereiro e março. Em Purim, as pessoas se fantasiam, põem-se a dançar e a fazer barulho nas ruas, com apitos e rashanim, tal como ocorre no carnaval.

A Páscoa católica, por sua vez, tem inspiração no Pessach, sempre celebrado em março ou abril, com os judeus comemorando a saída do Egito e os cristãos rememorando a ressurreição de Cristo. Lembremo-nos de que a Páscoa celebrada por Jesus e seus apóstolos era a judaica, com direito a sidur, vinho e pão ázimo.

Outros costumes cristãos derivam do judaísmo e seriam muitos para relacioná-los aqui. O dia semanal de descanso, por exemplo, que segundo ordena Deus no Velho Testamento deve ser o sétimo — o Shabat —, foi transferido para o domingo, primeiro dia da semana, por determinação do imperador romano Constantino. Isso passou, de fato, a acontecer por sua ordem a partir de 321 d.C., em mais uma iniciativa para distinguir do judaísmo a nova religião naqueles primórdios do monoteísmo europeu. A artificialidade do ato de Constantino fez surgir reações dentro da própria Igreja, dando origem a vertentes sabatistas séculos depois.

Com relação à festa do Natal, a data coincide com a de Chanuká — a “Festa das Luzes” —, quando os israelitas festejam a vitória dos macabeus contra os gregos selêucidas, declarando a independência da Judeia em 165 a.C. Na retomada do Templo de Jerusalém, foi registrado o milagre do óleo purificado, suficiente para acender os candelabros por apenas um dia, mas que perdurou por oito. Por isso, todos os anos, os judeus acendem candelabros e agradecem a Deus pela vitória que assegurou a sobrevivência da religião.

No caso do Natal, as luzes da cristandade foram associadas ao nascimento de Jesus, sendo estabelecido o dia 25 de dezembro pelo papa Júlio I, por volta do ano 354. Assim, acabou sendo esquecido, pelos cristãos, o significado de Chanuká como libertação frente aos gregos e ao paganismo.

Todo esse berço judaico do cristianismo, bem como o fato de possuir um calendário tão arraigado às efemérides da “Lei Antiga”, dos Rolos de Ester e dos Livros dos Macabeus, não enfraquecem em absoluto a exegese do Novo Testamento, seus significados e celebrações. Ao contrário, renovam espíritos, aproximam as pessoas, intensificam o diálogo e reforçam a fé. É importante ter ciência desses paralelos que, às vezes, nos passam despercebidos.

Jacques Ribemboim - Escritor

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