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Alfredo Antunes e a "arma de construir o futuro"

A literatura portuguesa, de diversas épocas, estilos e gerações, sempre despertou o interesse dos leitores e dos meios acadêmicos de Pernambuco

Marcus Prado

Publicado: 15/12/2025 às 14:01

Alfredo Antunes e a

Alfredo Antunes e a "arma de construir o futuro" (Reprodução/Redes Sociais )

Marcus Prado *

A literatura portuguesa, de diversas épocas, estilos e gerações, sempre despertou o interesse dos leitores e dos meios acadêmicos de Pernambuco, o que se evidencia em teses universitárias e ensaios críticos publicados nas melhores mídias culturais do Recife. (O escritor Eça de Queirós, nas primeiras décadas do século passado, já tinha leitores cativos no Brasil, ao lado de Machado de Assis. Inclusive, eram conhecidos os “pingos de rivalidade” do autor de Memórias Póstumas de Brás Cubas, que levavam ambos a trocar farpas nas folhas da imprensa). A tradição teve um dos primeiros movimentos com Joaquim Nabuco, renomado abolicionista e diplomata pernambucano, com seu livro de juventude Camões e Os Lusíadas. Muito tempo depois, no Recife, vieram os escritos de Gilberto Freyre, Jordão Emerenciano, César Leal, João Alexandre Barbosa, Joel Pontes, Rubem Franca, Ormindo Pires Filho, Alberto Frederico Lins, Lucila Nogueira, Francisco Balthar Peixoto, Paulo Cavalcanti, Francisco Gomes de Matos, Leodegário Amarante de Azevedo, José Rodrigues de Paiva, Leônidas Câmara, Lourival Holanda, Zuleide Duarte, Alberto da Cunha Melo, Mário Hélio, José Paulo Cavalcanti Filho, Dagoberto Carvalho, Janilton Andrade, Marly Mota, Elizabeth Hazin, Luzilá Gonçalves, entre outros. Neste conjunto de especialistas, destaca-se o trabalho do professor Alfredo Antunes com pesquisas e numerosos escritos sobre o poeta português a partir do seu livro Saudade e Profetismo em Fernando Pessoa, obra prodigiosa, com várias edições, uma delas adquirida pela famosa Livraria Lello (Porto, Portugal) e outra também editada pelo Gabinete Português de Leitura (Recife), na gestão de Celso Stamford. Com esse livro, um clássico na sua proposta singular, o nosso autor atingiu a culminância entre os que historicamente se dedicam aos estudos pessoanos no Brasil e em Portugal. Tornou- se reconhecido pelo que traz sob o prisma analítico e exegese temática pioneira sobre o poeta muitas vezes considerado o maior depois de Camões.

Durante cerca de 60 anos, desde 1957, Fernando Pessoa andou povoando o íntimo afetivo e acadêmico de Alfredo Antunes. Foi tema do Relatório de Conclusão da sua Licenciatura em Letras (1957); tema da sua Dissertação de Mestrado em Filosofia (1962); tema do seu Doutorado em Filosofia (1982) e tema do seu Pós-Doutorado em Antropologia Filosófica (1999). “Uma vida e um amor selados”, diz ele. “Amor que extravasou, também, em inúmeros eventos e pequenas publicações, nos intervalos desses marcos acadêmicos”.

Desejando homenagear o poeta dos heterônimos, nos 80 anos de sua morte, Antunes decidiu reunir, em volume, 13 das principais “meditações” por ele publicadas ao longo da vida em veículos portugueses e brasileiros. E assim nasceu uma nova edição, recente, do livro Fernando Pessoa – Meditações da Estrada. A primeira edição se esgotou rápido no Brasil e em Portugal. E por julgar relevante o seu conteúdo, preparou a segunda edição, que acaba de sair. Permanece a excelente apresentação do professor e poeta
José Rodrigues de Paiva, guiando o leitor pelas sendas do infinito que toda a arte encerra. Para onde o nosso autor levará Fernando Pessoa nos próximos anos?. “Somente sei que, para onde eu for, ele irá comigo”, foi uma das suas confissões. E acrescenta: “Minha mãe nasceu no mesmo dia, mês e ano que o Poeta (13.06.1888), e eu nasci (15.12.1935), 15 dias após sua morte. Esta misteriosa conexão entre nós explica por que minha atual obsessão pessoana seja “entender” a fundo o Livro do Desassossego. Somente sei que, para onde eu for, ele irá comigo”. Em Mensagem, a poesia é arma para construir o futuro.


* Jornalista

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