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Neste Natal, menos telas e mais infância

A Black Friday costuma ser vista como um convite ao consumo impulsivo, mas pode — e deveria — ser uma oportunidade para escolhas conscientes

Karina Oliveira

Publicado: 03/12/2025 às 10:49

A infância merece experiências reais, ricas e profundas/Foto: gpointstudio/freepik

A infância merece experiências reais, ricas e profundas (Foto: gpointstudio/freepik)

Karina Oliveira *

A Black Friday costuma ser vista como um convite ao consumo impulsivo, mas pode — e deveria — ser uma oportunidade para escolhas conscientes, especialmente quando falamos de compras para as crianças. O momento de promoções pode ser um aliado dos pais que desejam investir em brinquedos e materiais que realmente contribuam para o desenvolvimento infantil.

Nos últimos anos, temos observado um aumento significativo no uso de telas já na primeira infância. Esse hábito, quando excessivo e sem supervisão, afeta áreas essenciais do desenvolvimento, como a linguagem, a interação social e até a alimentação. Não é raro que crianças expostas por longos períodos a celulares e tablets apresentem atraso de fala e padrões mais rígidos de seletividade alimentar.

A Sociedade Brasileira de Pediatria reforça esses cuidados ao recomendar zero contato com telas até os 2 anos de idade e, a partir disso, no máximo 1 hora por dia, sempre com supervisão. No entanto, como cada família tem sua realidade e zerar totalmente as telas nem sempre é possível, é importante seguir algumas diretrizes que ajudam a reduzir os prejuízos. Entre elas: evitar o uso de telas próximo ao horário de dormir e nas refeições; optar pela televisão em vez do celular quando não houver outra alternativa; priorizar conteúdos com fala adequada; evitar vídeos com diálogos pobres; e nunca deixar a criança com acesso à internet sem supervisão. São medidas simples que fazem diferença e preservam aspectos fundamentais do desenvolvimento.

A fala se constrói majoritariamente pela interação humana, e não pela interação com dispositivos eletrônicos. O olhar, o turno de conversa, o gesto, a brincadeira compartilhada — tudo isso é linguagem. Quando substituímos esses momentos por vídeos e jogos digitais, tiramos da criança a oportunidade mais rica de aprender a se comunicar.

Da mesma forma, a seletividade alimentar — quando a criança aceita apenas poucos alimentos ou texturas — pode ser intensificada pelo uso de telas durante as refeições. O alimento passa a ser consumido de maneira automática, sem exploração sensorial, sem curiosidade e sem consciência do próprio corpo. Isso compromete o vínculo com o ato de comer e atrapalha o processo natural de aceitação alimentar.

A boa notícia é que existem brinquedos e jogos que estimulam exatamente o que as telas bloqueiam: criatividade, oralidade, interação e sensorialidade. Brinquedos de encaixe, jogos com regras simples, livros interativos, massinhas, fantoches, instrumentos musicais e materiais de faz de conta são excelentes aliados do desenvolvimento infantil.

É fundamental que os pais entendam que celular e tablet não são brinquedos. Eles podem até ter seu lugar na rotina, com uso controlado, horário limitado e conteúdo adequado, mas não substituem a brincadeira, a conversa, o toque, a troca e o movimento — pilares do desenvolvimento saudável.

Com o Natal se aproximando, fica o convite: que tal repensar os presentes deste ano? Em vez de reforçar a presença das telas, os pais podem escolher brinquedos, livros e jogos que de fato agregam aprendizado e fortalecem vínculos. Um presente não precisa brilhar na tela para iluminar o desenvolvimento de uma criança.

A infância merece experiências reais, ricas e profundas. E os adultos têm papel decisivo na oferta dessas vivências. Escolhas conscientes hoje se transformam em habilidades sólidas amanhã. E, por fim, um lembrete importante: o exemplo arrasta. Se você deseja que seu filho use menos telas, comece monitorando o seu próprio tempo de uso em casa também. A transformação começa no adulto — e a criança segue.

Fonoaudióloga infantil especializada
em Linguagem, Fala e Seletividade
Alimentar*

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