O País das Torcidas
Há tempos a política deixou de ser debate para virar torcida
Publicado: 31/10/2025 às 09:02
 
                                Há tempos a política deixou de ser debate para virar torcida (Foto: drazen_zigic/Freepik)
Por Isabella de Roldão
Há tempos a política deixou de ser debate para virar torcida.
Cada lado ergue sua bandeira, grita o nome do seu ídolo, veste a sua cor.
E, como nos estádios lotados de um clássico inflamado, o que deveria ser celebração da cidadania virou campo de guerra.
Famílias se desentendem, amizades se rompem, os encontros perdem o brilho — e o diálogo, que deveria ser ponte, se tornou trincheira.
Vivemos o Brasil das arquibancadas divididas, onde ninguém quer compreender, apenas vencer.
De um lado e de outro, torcidas exaltadas se empurram atrás de grades simbólicas — e reais —, numa batalha de egos e ofensas.
O objetivo não é mais construir, é derrubar o adversário.
E, enquanto isso, a elite política, dona dos holofotes e das jogadas ensaiadas, segue sua partida interminável, movida pela vaidade e pelo poder, afinal, quando a política esquece o propósito e veste o uniforme da rivalidade, a democracia sangra — e a sociedade inteira perde o sentido de jogo limpo.
Nessa disputa insana, há apenas um grande perdedor: o povo brasileiro.
Mais de duzentos e vinte milhões de pessoas assistem — e sofrem — as consequências de um jogo sem fair play, onde a regra é atacar e o prêmio é o caos.
A polarização se alimenta da raiva, e o ódio se torna combustível para uma engrenagem que nos empurra de volta à barbárie.
Parece um jogo de meninos grandes, brincando de WAR no recreio da escola.
Eles se agrupam, traçam planos para dominar o tabuleiro, acreditando que o mundo cabe no seu mapa reduzido.
Mas esquecem que somos plurais, que o verdadeiro poder nasce da partilha, da colaboração, do servir.
Esquecem que a humanidade evolui quando compreende que o outro não é inimigo — é espelho.
O caminho que deveríamos trilhar é o da evolução humana: buscar o bem, a justiça, o respeito.
E quando essa busca se dá nos espaços públicos, onde o verbo servir deveria ser verbo de ação e não de discurso, a responsabilidade é ainda maior.
Porque o exemplo arrasta.
E o mau exemplo — como o que vemos na política transformada em arquibancada hostil — tem nos arrastado para o fundo do poço, corroendo as relações de amor, empatia e fraternidade.
É urgente resistir à cretinice que tomou conta do debate público.
É urgente reconstruir pontes, reaprender a escutar, lembrar que o Brasil não é campo de futebol: é casa comum, onde cabem todas as cores, vozes e ideias.
O futuro não se constrói com gritos de torcida, mas com gestos de cooperação.
Que tenhamos consciência do poder que nos foi confiado — por Deus e pelo voto.
E que, ao final da partida da vida, possamos responder, como na parábola dos talentos, que fizemos bom uso do que nos foi dado:
o dom de servir, de respeitar e de semear comunhão entre os seres.
Que o país reencontre sua sanidade e sua alma.
Que deixemos de lado o jogo dos egos e voltemos ao jogo da vida — aquele em que o gol maior é o bem comum.
Que a política volte a ser espaço de serviço e não de vaidade; de construção e não de destruição.
Porque o destino do Brasil não pode ser decidido por quem joga para vencer o outro, mas por quem joga para elevar a todas as pessoas.
 
    
 
    
 
                 
            