
Sede da Organização Mundial do Comércio, em Genebra, Suíça (Foto: Reprodução)
A ordem econômica internacional pode ser compreendida como o conjunto de regras, instituições e práticas que regem as relações econômicas entre países. Ela organiza fluxos comerciais, monetários e de investimentos, além de definir políticas de desenvolvimento. Instituições como a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e a Organização das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) são fundamentais para a manutenção desse sistema. Embora baseada na cooperação, a ordem internacional sempre refletiu assimetrias de poder, especialmente desde o acordo de Bretton Woods, que estruturou a criação do FMI e do Banco Mundial.
Nas últimas décadas, essa ordem vem sendo desafiada por transformações profundas. Uma das mais relevantes é a ascensão dos BRICS, cujo peso na economia global cresceu de forma significativa desde o início dos anos 2000. Esse movimento enfraquece a hegemonia dos países desenvolvidos e desperta tensões ligadas à percepção de perda de poder relativo. Ao mesmo tempo, desde os anos 1980, verifica-se um aumento da concentração de renda nos países desenvolvidos. Mais recentemente houve também queda do ritmo de crescimento dos países desenvolvidos. Esse aumento da desigualdade, junto com o baixo crescimento econômico tem gerado muita frustração social.
Nesse contexto, o fascismo ressurge como força política de impacto global. Trata-se de uma ideologia ultranacionalista, autoritária e agressiva, marcada pela repressão a dissidências e pela defesa do corporativismo econômico. Teóricos como Freud, Eric Fromm, Wilhelm Reich e Adorno destacaram diferentes fatores que explicam sua ascensão: destacando-se as frustrações individuais como fenômeno social e persistência de culturas autoritárias, além da reação política à esquerda.
A crescente desigualdade e a estagnação das economias desenvolvidas intensificam sentimentos de insatisfação, impulsionando a adesão a ideologias fascistas. Isso está contribuindo para a corrosão das instituições internacionais, a proteção de setores nacionais e a possível redução da centralidade do dólar no sistema financeiro global. O fascismo, portanto, não é apenas um fenômeno político interno; ele tem implicações diretas na estabilidade e no funcionamento da ordem econômica internacional.
Entre as consequências, destacam-se a redução da proteção ambiental, a falta de apoio a migrantes e populações vulneráveis, e a intensificação de conflitos étnicos e territoriais, como exemplificado nas guerras da Ucrânia e de Gaza. Além disso, a integração das cadeias globais de produção tende a diminuir, o que pode frear elevações de produtividade, compensando parte dos ganhos esperados a partir da incorporação da inteligência artificial nos processos produtivos, atualmente em andamento.
Em síntese, a ordem econômica internacional atual encontra-se em um momento de transição. Ela depende não apenas de arranjos institucionais, mas também das ideologias que prevalecem nas economias avançadas. Mesmo que a democracia continue como pilar central, concessões aos movimentos autoritários parecem inevitáveis, reconfigurando o equilíbrio de poder global e moldando o futuro das relações internacionais. Ou seja, o mundo sofre por essa ascensão do fascismo.

