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As vidas cruzadas de Eduardo Campos e Miguel Arraes

Em 10 de agosto de 1965 nasceu no Recife Eduardo Campos, em meio a um período conturbado da vida brasileira

Milton Coelho

Publicado: 15/08/2025 às 10:55

Eduardo e Arraes passaram por caminhos similares/Foto: Arquivo DP

Eduardo e Arraes passaram por caminhos similares (Foto: Arquivo DP)

Em 10 de agosto de 1965 nasceu no Recife Eduardo Campos, em meio a um período conturbado da vida brasileira, pois havia pouco mais de um ano do golpe militar de 1964, cujos transtornos alcançaram seu ambiente familiar uma vez que seu avô materno, Miguel Arraes de Alencar, então governador de Pernambuco, foi deposto e preso pelos militares. Libertado graças a Habeas Corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal, relatado pelo Ministro Evandro Lins e Silva, aprovado por unanimidade, foi viver na Argélia onde recebeu asilo político. Esses fatos, desde tenra idade, o ligaram à vida pública brasileira. Embora convivesse com a memória marcante de Arraes em todos os ambientes que frequentava, Eduardo Campos só o conheceu pessoalmente aos 11 anos, quando esteve em visita ao avô na Argélia.


Em 1979, após a anistia, Miguel Arraes retorna do exílio e há o definitivo encontro com Eduardo Campos, então com 14 anos, que logo manifestou interesse pelos assuntos da política, que faria de ambos personagens importantes da história do Brasil, marcadamente em Pernambuco, estado que governaram por cinco mandatos. Juntos no comando do Governo de Pernambuco, mas em tempos distintos, deixaram um legado que transformou a sua realidade política, econômica e social.


No conturbado ano de 2005, Miguel Arraes presidia o PSB e em meio à crise política que se agravava, em audiência com o Presidente Lula, recomendou que quando quisesse tratar das questões partidárias poderia se dirigir a ele próprio, mas, se o assunto envolvesse agenda do governo, o interlocutor seria o ministro Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia). O episódio soa como uma passagem simbólica de comando e reconhecimento do líder nacional que Eduardo Campos já manifestava ter se transformado.


Incontáveis fatos nas vidas de Miguel Arraes e Eduardo Campos realçam os líderes que foram, homens de Estado, que guardavam incomum identidade não apenas pelos laços de família, mas muito principalmente pela capacidade de construir um legado que transformou vidas, cujas obras ainda estão por merecer acurados estudos, e que são frutos dos atributos dos grandes gestores que foram, com realizações de incalculável repercussão transformadora na vida do povo. Tudo isso fruto de impressionante dedicação pessoal,trabalho com método, planejamento e disciplina, que enjeito chamar “sacrifício de vida” porque jamais vi alguém trabalhar com tanto prazer, a ponto de achar o descanso e o lazer quase um pecado.
Eduardo Campos nos deixou moço, aos 49 anos, tendo realizado tanto pelo Brasil e por Pernambuco que é digno de figurar na mesma página da história onde está escrito o nome de Miguel Arraes de Alencar.

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