As pimentas de Lina Bo Bardi, as balas de menta do cavalo de Papaléo, outras estórias
Marcus Prado Jornalista
Publicado: 28/07/2025 às 00:00

Masp (SP) (Divulgação)
Quando esteve no Recife, convidada por Francisco Brennand e Ariano Suassuna, para o projeto que seria a Casa da Cultura, a partir da antiga Casa de Detenção (Governo de Miguel Arraes/1963), Lina Bo Bardi, arquiteta ítalo-brasileira consagrada com o prêmio Leão de Ouro, na Bienal de Veneza de Arquitetura, foi recebida para almoço pelo casal Francisco e Deborah Brennand, no engenho São Francisco (bairro recifense da Várzea). Lina tinha uma relação estreita com o mundo da arte, uma das suas obras mais emblemáticas, o MASP, é um marco da arquitetura moderna no Brasil, conhecido por sua estrutura suspensa. Havia outros convidados: César Leal, Maria Carmen, André e Tânia Carneiro Leão, Paulo Fernando Craveiro, Acácio Gil Borsoi, Marcelo Carneiro Leão, Jorge Martins Jr. Antes de o almoço ser servido, Lina pediu à dona da casa um copo cheio de pimenta vermelha, a malagueta, uma das mais famosas do mundo, e que lhe foi servida como uma entrada jamais vista na culinária pernambucana. A “pimenta” em relação à Lina Bo Bardi refere-se à sua marcante utilização da cor vermelha em suas obras. Essa escolha cromática, que vai além do aspecto estético, tornou-se uma assinatura da arquiteta, conectando suas criações e conferindo-lhes uma identidade única.
A pimenta de Lina me traz como um filme o cavalo branco mais belo do Recife, o Lord, Manga-larga Marchador, de Francisco Papaléo, um executivo pernambucano de muitos amigos e com uma trajetória profissional reconhecida. Lord combina os benefícios das melhores linhagens em nível de sua raça, de porte elegante, beleza plástica, temperamento dócil. O curioso é que esse cavalo, que conheço, amoroso e gentil, tem por comida predileta as nossas balas de menta. Certa vez o seu dono deixou cair umas pastilhas de menta, de conhecida marca, e Lord, rapidamente, as abocanhou, tornando-se viciado desde aquele dia. “Ao me ver de longe, fica agitado como a pedir a sua pastilha”, diz Papaléo. “Passear a cavalo, olhando as paisagens, tornou-se o meu lazer, a maneira de aliviar a mente do estresse diário. Fala-se muito em equinoterapia, e eu concordo que melhor terapia não existe.”
Não é de surpreender o que já foi dito nesta crônica, pois vem surrealismo a seguir: o cavalo que bebia cerveja, tema de um belo conto de João Guimarães Rosa presente em sua obra Primeiras Estórias. Explora temas como a solidão, a amizade improvável, a morte, e a relação entre o homem e o animal. Por fim, o folheto de cordel do pernambucano de Vitória de Santo Antão, Severino Milanês, que conta a estória do “matuto que bebia cachaça e seu cavalo ficava bêbado”.

