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Tarifas de importação versus balanço comercial

Alexandre Rands Barros
Economista

Diario de Pernambuco

Publicado: 26/07/2025 às 00:10

A tarifa anunciada ao Brasil é a mais alta entre os países afetados pelas chamadas

A tarifa anunciada ao Brasil é a mais alta entre os países afetados pelas chamadas "tarifas recíprocas" (Foto: Arte Metrópoles/Gabriel Lucas)

Nos últimos dias, ganhou destaque o debate sobre as tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos ao Brasil. Parte da reação política e empresarial brasileira concentrou-se no fato de o país registrar déficits comerciais com os EUA, argumentando que isso tornaria as tarifas americanas injustas. No entanto, essa ênfase está equivocada. O que realmente importa, do ponto de vista econômico, não é o saldo comercial bilateral, mas o grau de proteção que um país oferece aos seus próprios produtores. O indicador mais relevante para entender essa proteção é a tarifa média de importação ponderada pelos fluxos de importação em cada setor. Ela revela o quão difícil é, na prática, para um exportador estrangeiro competir com os produtores domésticos em determinado mercado. Países geralmente impõem tarifas apenas nos setores em que são menos competitivos. Tarifas amplamente distribuídas entre todos os setores costumam refletir uma lógica puramente arrecadatória.

Nesse cenário, o Brasil ocupa uma posição isolada. Segundo estudo recente de Anderson e Yotov, publicado no NBER Working Paper Series em julho de 2025, o Brasil teve a tarifa média de importação mais alta do mundo entre 2000 e 2019, em uma amostra de 99 países. Ela foi de 8,84%. Enquanto isso, economias como Suíça, Iraque, Macao, Taiwan e Vietnã aplicaram tarifas médias muito próximas a zero. Argentina, México e Chile tinham tarifas médias de 6,79%, 2,24% e 1,84%, respectivamente. A Rússia e a China também possuíam tarifas mais baixas do que o Brasil, sendo elas de 4,21% e 4,42%, respectivamente. Entre os países desenvolvidos, Portugal e Austrália eram os de maiores tarifas, 2% e 1,95%, respectivamente. Os EUA possuíam tarifas médias de 1,55%.

Tarifas elevadas provocam distorções de preços relativos e induzem a uma alocação ineficiente de recursos, prejudicando a produtividade de longo prazo. Há situações em que tarifas fazem sentido — como parte de uma política industrial para setores novos e ainda pouco maduros, ou para compensar subsídios no país exportador —, mas essas exceções devem ser tratadas como medidas temporárias e estratégicas. Infelizmente, no Brasil, a definição tarifária tem sido amplamente influenciada por lobbies setoriais, sem critérios claros sobre maturidade produtiva, potencial de escala ou competitividade futura. Isso perpetua ineficiências e dificulta a inserção do país em cadeias produtivas globais, reduzindo a possibilidade de ganhos de produtividade via comércio internacional.

O atual momento de tensão comercial entre Brasil e EUA pode, paradoxalmente, abrir uma janela de oportunidade. Em vez de focar apenas na retaliação ou no debate sobre déficits bilaterais, o Brasil deveria reavaliar sua própria estrutura tarifária. Uma reforma que reduza gradualmente as tarifas médias de importação, com base em critérios técnicos, pode contribuir para modernizar a economia, estimular investimentos e aumentar a produtividade. Conclui-se, portanto, que o Brasil precisa aproveitar esse momento de discussão para iniciar um processo sério de redução das suas tarifas médias de importações. Nesse contexto, uma retaliação elevando as tarifas para importações dos EUA a níveis propostos por Trump seria agir de forma emocional, sem considerar os verdadeiros interesses do país. Basta algo como 10%, apenas para incentivar a substituição de fornecedores americanos, já que os EUA já não são um fornecedor confiável.

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