° / °

Coluna

Opinião

Lula afronta o Barão do Rio Branco

Aristoteles Drummond
Jornalista e historiador

Diario de Pernambuco

Publicado: 25/07/2025 às 00:10

Presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva e presidente dos Estados Unidos, Donald Trump/Fotos: Palácio do Planato e AFP

Presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva e presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Fotos: Palácio do Planato e AFP)

O Brasil conta com um grupo de servidores públicos de muito boa qualidade e que conquistou respeitabilidade no país e no exterior. Entre eles, os diplomatas, uma elite que desde o Império bem representa o pensamento brasileiro do bom convívio com outros povos, do acolhimento sem preconceitos, na disposição para a paz, mas não relutando a entrar em conflitos em nome de causa superior. Assim foi, inclusive, nas duas grandes guerras que marcaram o século 20. Antes, no Império, o Brasil foi apenas para reagir a uma invasão e o fez aliado a nações amigas e vizinhas, como Uruguai e Argentina.

Figuras marcantes foram dois titulados do Império, o Visconde do Rio Branco e seu filho Barão do Rio Branco. Ambos exerceram o Ministério das Relações Exteriores, mas o barão, filho, foi o negociador nas questões de fronteiras, obtendo para o Brasil meio milhão de quilômetros quadrados sem conflitos, na mediação e na negociação. O atual estado do Acre foi comprado em dinheiro da Bolívia.

Os diplomatas são formados na linha denominada “doutrina Rio Branco”, que recomendava boas relações ao norte com os EUA, primeiro país a reconhecer a Independência, e os vizinhos do Prata – Uruguai, Argentina e Paraguai –, evitando assumir posições em conflitos longe das fronteiras nacionais. Naquela altura, final do século 19 e início do século 20, já mostrava um Brasil acolhedor à imigração europeia e sírio-libanesa, especialmente.

O barão exerceu cargos diplomáticos na Inglaterra, França e Suíça, muito em função das questões de fronteiras entregues à mediação. Na carreira estreitou relações com seus amigos pernambucanos diplomatas Joaquim Nabuco e Oliveira Lima.

Para que se possa avaliar a importância do barão, ele foi ministro de três governos republicanos e nunca deixou de usar o título recebido do Imperador Pedro II.

A chamada velha guarda do Itamaraty, nos seus anos dourados, que vão dos 50 aos 90, com grandes diplomatas mostra perplexidade com as orientações do presidente Lula que briga com tudo que lhes foi legado pelo grande brasileiro. O Brasil está na contramão da posição de seus mais tradicionais aliados, de países de influência cultural, econômica e histórica, como França, Inglaterra, Itália, Bélgica, Portugal e Espanha.

Na invasão da Ucrânia, não reconhece que se trata de uma invasão, no Oriente Médio, condena a reação legítima de defesa de Israel. Tem sido duro com Israel, país que nasceu em reunião das Nações Unidas, em 1948, presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha e tem na comunidade israelita uma presença relevante pela qualidade da presença e contribuição à sociedade.

Quanto ao viés antiamericano, inspirado em seu assessor Celso Amorim, tanto provocou o presidente Trump que acabou recebendo a resposta natural, prejudicando o país.

Em relação à Argentina o recente vexame foi, em sua viagem a Buenos Aires para reunião do Mercosul, visitar Cristina Kirchner, condenada pela Justiça por crime de corrupção e opositora do presidente Milei. Há meses deu asilo e ainda mandou um avião do governo buscar Nadine Heredia Alarcón, mulher de Ollanta Humala, ex-presidente do Peru, também condenada por corrupção. Teria até declarado que “precisamos espanar o mofo aristocrático de nossa diplomacia”.

Vivos fossem, o visconde e o barão ficariam sem entender nada assim como os ilustres pernambucanos que escreveram as melhores páginas de nossa diplomacia como Holanda Cavalcanti, Gibson Barbosa, Olegário Mariano e os dois Cabral de Melo, entre outros.

Mais de Opinião