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Coluna

Opinião

A ciência brasileira na COP30

Moacyr Araújo, Vice-reitor da UFPE e coordenador científico da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais - Rede Clima
e
Paulo Artaxo, Coordenador do Centro de Estudos Amazônia Sustentável da USP

Diario de Pernambuco

Publicado: 24/07/2025 às 00:10



Sessão plenária

Sessão plenária "Meio Ambiente, COP30 e Saúde Global", no Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio de Janeiro (Ricardo Stuckert / PR)

É fundamental que a ciência brasileira esteja fortemente presente na COP30, como o próprio presidente da COP30 explicitou inúmeras vezes. A ciência deve estar presente tanto nos estandes da Zona Azul e Verde, bem como nas negociações formais. A ciência climática brasileira é robusta, consolidada e tem contribuído significativamente para o avanço do conhecimento e na construção de estratégias de enfrentamento às mudanças do clima.

Com sua escala continental, diversidade de biomas e territórios, largo espectro de aglomerações populacionais e desigualdades enraizadas, o Brasil é um epicentro estratégico para o desenvolvimento global de soluções climáticas relevantes.

A experiência comprova que, quanto mais audaciosas forem as políticas públicas, maior é o necessário de embasamento científico que as justifiquem e que demonstre seus objetivos e eficácia. Como exemplos de tal situação, temos a Contribuição Nacional Determinada (NDC) brasileira, e as Estratégias de Mitigação e de Adaptação para alcançar estes objetivos, materializadas através do Plano Clima, em fase final de elaboração. As estratégias de mitigação e adaptação devem ser baseadas em ciência, para que tenham efetividade e mínimo impacto socioeconômico.

O Brasil tem muito a mostrar na COP30, e citamos três exemplos: 1) Amazônia; 2) Áreas costeiras e oceânicas; e 3) Adaptação nas cidades brasileiras. No caso da Amazônia, estratégias efetivas de redução do desmatamento e da degradação florestal são fundamentais. Encontrar maneiras de desenvolver sustentavelmente o bioma amazônico e também melhorar o índice de desenvolvimento humano da região é fundamental. Em nossas áreas costeiras, combater o aumento do nível do mar e preservar os estoques de carbono de nossos manguezais é fundamental. Mais de 80% da população brasileira vive em cidades, e teremos que adaptar nossos ambientes urbanos a temperaturas 3 a 4 graus mais elevadas. Isso tudo sendo feito ao mesmo tempo em que temos que zerar nossas emissões e realizar uma transição energética que garanta o futuro energético para nossa população e atividades econômicas. Algumas atividades econômicas de nosso país, como o agronegócio, são extremamente vulneráveis à redução de precipitação e ao aumento de temperatura. O mesmo se dá com a exploração de nosso potencial hidrelétrico.

A COP30 é uma oportunidade para o Brasil. Uma oportunidade de reafirmação da nossa soberania. Para que isso seja efetivo, é necessário que possamos apresentar ao mundo as contribuições científicas nacionais que embasam as propostas de políticas públicas internas e externas no âmbito das mudanças climáticas e proteção ambiental de nossos ecossistemas. Sabemos que tópicos como redução de emissões de gases de efeito de estufa, adaptação às alterações climáticas, transformação ecológica e transição energética para energias renováveis e de baixa emissão de carbono, proteção de nossa área costeira, preservação dos nossos biomas, da biodiversidade e assegurando justiça climática estarão em pauta em Belém.

Neste sentido, é fundamental que a ciência brasileira tenha um espaço proeminente na COP30, a ser viabilizado através da ação conjunta do MCTI, MMA, entre outros ministérios, onde a Finep pode ter um papel catalizador importante. Este espaço da ciência brasileira deve ser integrado às atividades da COP-30, e não isolado como atividade paralela, que pode ter pouco impacto em mostrar nossa força científica. Podemos ter painéis que discutam a implementação das políticas sendo decididas nas mesas de negociações da COP-30. Deste modo, podemos fazer a ponte do melhor da ciência existente, com as políticas públicas que precisamos.

Mais do que nunca, a liderança e a soberania de uma nação se alicerçam na ciência que esta é capaz de desenvolver. E mais do que nunca necessitamos de reafirmar a liderança e soberania brasileiras. A COP30 é locus privilegiado para isto.

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