A falta que o PSDB faz ao país
Angelo Castello Branco
Membro da Academia Pernambucana de Letras
Publicado: 15/07/2025 às 00:00

Foto: Reprodução/ PSDB ()
Durante décadas, o PSDB exerceu um papel fundamental na política brasileira como um partido de centro moderador, capaz de agregar diferentes visões e construir pontes entre polos ideológicos opostos.
Sob a liderança de nomes como Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, José Serra e outros quadros de reconhecida competência e espírito público, o partido contribuiu para a estabilização econômica do país, para a consolidação da democracia e para a construção de uma agenda racional de reformas, voltada ao interesse nacional e à modernização do Estado.
O PSDB não era apenas uma legenda com quadros técnicos qualificados; era também uma força de contenção dos extremos. Sua vocação era reformista, não revolucionária. Buscava o diálogo, não o confronto.
Propunha o progresso com responsabilidade, não o populismo de ocasião. Foi, por muitos anos, o contraponto sereno e estruturado à gritaria ideológica de uma esquerda radicalizada, e ao mesmo tempo uma barreira à ascensão de tendências autoritárias à direita. Seu centro político tinha densidade intelectual e compromisso institucional.
Hoje, o vazio deixado pelo enfraquecimento do PSDB é ocupado por movimentos políticos marcados pelo oportunismo, pelo extremismo retórico e pela baixa qualidade das propostas. A política nacional parece ter perdido o eixo de equilíbrio. Crescem as vozes que vivem do conflito, da polarização artificial, da demonização do outro — em vez de promoverem pactos mínimos para o bem comum.
Nesse contexto, causa especial preocupação a estratégia adotada por parte do atual governo federal, que tem optado deliberadamente por fomentar a luta de classes como forma de mobilização eleitoral.
Trata-se de uma tática arriscada, que mina o tecido social ao dividir o país entre “nós” e “eles”, sem oferecer um projeto estruturante, inclusivo e realista para o futuro. A única proposta concreta parece ser a manutenção do poder, em nome de uma retórica de revanche social que já demonstrou, em diversas partes do mundo, seus limites e riscos.
A ausência de uma força política moderadora, com capacidade de formulação e de articulação, como foi o PSDB em seus melhores momentos, deixa o país à deriva entre extremos ruidosos e pouco eficazes.
Recuperar esse espaço — ou reinventá-lo com novos protagonistas — é talvez uma das missões mais urgentes para quem ainda acredita na política como instrumento de construção nacional, e não de destruição mútua.

