No sanatório de Davos: Thomas Mann e Manuel Bandeira
Marcus Prado
Jornalista
Publicado: 14/07/2025 às 00:00

Davos - Suiça (myswitzerland.com)
Há 112 anos, saia do Porto do Rio de Janeiro o navio que levaria o poeta pernambucano Manuel Bandeira à cidade montanhosa de Davos, (Suíça), para uma temporada de tratamento contra a tuberculose. O ar, o clima, a paisagem alpina, onde poderia se curtir o visual de cair o queixo, eram tidos milagrosos para quem sofria dessa doença. Foi talvez o período mais difícil na vida do jovem poeta, celebrado como um dos mais representativos do movimento modernista de 1922. Seu poema Os Sapos foi o abre-alas da Semana de Arte Moderna, uma sátira ao movimento Parnasiano. No mesmo período em que Bandeira fora internado no sanatório Schatzalp, o ambiente era frequentado pelo Nobel da Literatura, Thomas Mann, em visita à sua esposa, Katharina Hedwig Mann, internada desde 1913 “para cura de uma tuberculose”, segundo um dos seus biógrafos. (Na verdade, foi acometida de uma exaustão física e mental, causada por estresse prolongado e excessivo, era além de esposa secretária do escritor).
Foi nesse local que o marido buscara inspiração para escrever o clássico A Montanha Mágica, traduzido em numerosos idiomas. Foi no Schatzalp “sem a menor esperança de sobreviver”, conforme Manuel Bandeira confessara posteriormente no poema Pneumotórax, (do livro Libertinagem), onde o poeta da Rua da União (Recife) se tornaria amigo de Paul Éluard, também internado. (Éluard ficou conhecido como um dos expoentes do movimento de vanguarda Dadaísmo). Juntos, ele e Bandeira liam poemas de Gerard de Nerval, Baudelaire e Apollinaire. Nesse ambiente, creio que Manuel Bandeira teria como se aproximar de Thomas Mann sabendo que a mãe dele era brasileira de Paraty, a senhora Júlia da Silva Mann. (No livro de Teolinda Gersão, a autora portuguesa, minha cara amiga, conta a saga da brasileira em solo alemão). Se não houve um encontro entre os dois escritores, cabe a um bom ficcionista “inventar” esse prodigioso acontecer. Tão em uso nas biografias romanceadas, como as que guardo como referências: a biografia de Lou-Andreas Salomé, escrita pela pernambucana de Garanhuns, Luzilá Gonçalves Ferreira, e a de Frida Kahlo, feita pela mexicana Rauda Jamis, ambas baseadas em boas fontes de documentação.
O escritor pernambucano Vamireh Chacon, autor do livro Thomas Mann e o Brasil, se tornaria amigo da viúva de Thomas Mann, a senhora Katharina Hedwig Mann, a entrevistou. Lembro, além de Chacon, os pioneiros escritos, no Recife, sobre a obra de Thomas Mann: Gilberto Freyre, Luiz Costa Lima, César Leal, João Alexandre Barbosa, José Rodrigues de Paiva, Ormindo Pires Filho, Janilto Andrade. Paulo Gustavo, Paulo Fernando Craveiro, Gilberto e o escritor gaúcho Érico Veríssimo, muito se empenharam para realizar a vontade de Thomas Mann de conhecer a sua “casa mater”, em Paraty (RJ), o que infelizmente não aconteceu.

