COLUNA

Seres humanos já estão se relacionando com sistemas e chatbots, quais reflexões tiramos desse cenário?

Esse tipo de ferramenta pode até ajudar a diminuir a solidão de algumas pessoas, mas traz questões e dilemas que não podem ser ignorados

Publicado em: 23/08/2023 17:04 | Atualizado em: 23/08/2023 17:15

 (Foto: sebdeck/freepik)
Foto: sebdeck/freepik
Você sabia que, atualmente, pessoas estão se relacionando com chatbots e alguns sistemas conversacionais? Esse tipo de ferramenta pode até ajudar a diminuir a solidão de algumas pessoas, mas traz questões e dilemas que não podem ser ignorados.

Diversas pessoas ao redor do mundo estão envolvidas em algum tipo de relacionamento com um Avatar, com uma IA, ou com sistemas conversacionais. Isso não é nada futurista, está acontecendo agora. Na verdade, esse cenário vem se desenhando há algum tempo, notícias apontam para 2007 quando foi anunciado que o Japão estava produzindo namoradas-robôs para homens solitários.

Esse fenômeno de se envolver emocionalmente com esse tipo de sistema está sendo chamado por alguns de “efeito Elisa”, e surgiu a partir do interesse do ser humano de se conectar com outros seres. 

Já foi noticiado um casamento de um chinês com uma mulher robô e um relacionamento de um casal americano com um robô sexual para apimentar o relacionamento que acabou com o robô se tornando membro da família e “dormindo” na cama do casal. Situações de envolvimento emocional, seja de amizade ou de amor, com chats de bate papo têm crescido, e as justificativas são as mais diversas.

Diante da novidade, comércios eletrônicos, sites e plataformas estão vendendo esse tipo produto ou “experiência” e as opções estão por toda a rede. Empresas também estão desenvolvendo e oferecendo essa possibilidade através de seus sistemas. O Replika por exemplo, possibilita a criação de avatares personalizáveis com funções específicas para fins de amizade, romance ou para direcionamentos e orientações. A empresa conta com mais de seis milhões de usuários no mundo. O Replika virou personagem do filme “Soft Awareness” - produção dinamarquesa de 2018.

De acordo com informações de Dora Kaufman em reportagem, o Replika foi criado por Eugenia Kuyda. O propósito do aplicativo é oferecer uma "IA pessoal", um espaço onde o usuário compartilhe com segurança seus pensamentos, sentimentos, crenças, experiências, memórias e sonhos - seu "mundo perceptivo privado”. Os usuários ainda contam com um grupo privado no Facebook.

E não é só o Replika, há outros com o mesmo propósito como a XiaoIce, um chatbot lançado pela Microsoft em 2014 que tem hoje 660 milhões de usuários. Ele foi idealizado para longos envolvimentos efetivos.

Esses envolvimentos mencionados não se confundem com o que ocorre com os assistentes virtuais como Alexa, Siri, Google Assistant, pois, apesar da proximidade do usuário com a assistente, eles não são utilizados para envolvimento afetivo.

Os Sistemas utilizados para fins de relacionamento mencionados se desenvolvem através das tecnologias de IA e vão se adaptando ao usuário. Nesse sentido, o chatbot vai sendo desenvolvido através dessa interação.

Segundo o artigo que estuda o relacionamento humano com Chatbots “My Chatbot Companion - A Study of Human - Chatbot Relationship”, o relacionamento com o chatbot se mostrou gratificante para seus usuários, impactando positivamente na percepção de bem-estar dos participantes. As principais características do chatbot que facilitam o desenvolvimento do relacionamento incluem o chatbot ser visto como receptivo, compreensivo e não crítico.

Contudo, é preciso falar sobre esse tema sob diversas vertentes. O que levaria o ser humano a preferir ter um relacionamento com um sistema? A que ponto está chegando à solidão para que esses relacionamentos proliferem? Qual a possibilidade de esses sistemas interferirem em um relacionamento real? Sendo moldados de acordo com o usuário, quão difícil será que o parceiro encontre alguém real para substitui-lo?

É preciso entender que situações como essas precisam ser enfrentadas o quanto antes para não se tornarem um problema maior no futuro próximo, afinal qual é o risco para a humanidade com esse tipo de sistema de relacionamentos?
 
São questões que precisam ser observadas e refletidas de maneira multidisciplinar. 

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