Florença, a cidade-museu

Roque de Brito Alves
Membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 15/06/2019 03:00 Atualizado em: 15/06/2019 06:34

1 – Em julho próximo, iremos novamente (se Deus quiser) visitar Florença, a capital da Toscana, a mais bela região da Itália e símbolo maior da Renascença (séculos 15 e 16), o maior movimento cultural e humanístico da humanidade em sua volta ao passado artístico greco-romano. Conforme a ONU, Florença concentra um maior número mundial de obras de arte que possam existir em um certo espaço físico. Em Florença, não há necessidade de ir a seus museus para encontrar as suas obras de arte pois as mesmas estão em suas praças, jardins, ruas ou até em uma porta. A porta do batistério de São João, de bronze feita por Ghiberti durante 27 anos (1425-1452), uma maravilha que fez com que Miguel Ângelo ao vê-la dissesse: “É a porta do paraíso”.  

Por outra parte, as cidades próximas de Florença como: Siena (sua inimiga), Bolonha Pádua, Parma, Pisa, etc., etc., são também de grande riqueza artística e histórica. A sua vida artística nos séculos 15 e 16, inclusive dos gênios Leonardo da Vinci e Miguel Ângelo, está bem descrita e detalhada por Vasari, em livro sobre a vida dos artistas ainda hoje reeditado.

2 – Politicamente, a poderosa Família Medici (rival da Família Sforza, que dominava Milão), durante séculos governou Florença e que foi a grande protetora dos artistas, sobretudo com Lourenço, O Magnífico, contribuindo decisivamente para o movimento cultural da Renascença. Também, em polo oposto, em nossa opinião, a Família Borgia que foi a primeira grande família mafiosa da história, com as figuras criminosas de Lucrecia (o seu “anel envenenado”, que uniu beleza e maldade), César Borgia e igualmente do degenerado Papa Alexandre VI, em uma vida de pecados, de até relações incestuosas na família. O frade dominicano Savonarola que ousou diariamente em seus sermões criticar a devassidão de costumes da cidade, do clero e da nobreza foi apedrejado e queimado em 1498 na bela Praça da Signoria, em local hoje indicado com uma placa. Ainda, o escritor Maquiavel, em sua obra clássica de Ciência Política (O Príncipe), analisou o que de poder, de fraude, de cinismo “os fins justificam os meios” que podem existir na política.

3 – Entre os seus museus, destacamos “Uffizi” (em pintura rivaliza com o Louvre, em Paris, o Hermitage, em São Petersburgo e o National Galery, em Londres), a Galeria da Academia (com a monumental escultura “Davi”), o Palácio Pitti, etc., etc. No centro da cidade, a Praça da Signoria, é uma verdadeira galeria de esculturas ao ar livre, principalmente com as de Giambologna (“O Rapto das Sabinas”), de Cellini, etc.

4 – Quem passeia por Florença, sente que é verdade o verso do poeta Keats: “A beleza é uma alegria eterna”. Ou ainda, sente a obra de arte como essencialmente fruto do amor pois o genial Dante (que nela viveu), diz ao final da obra prima Divina Comédia: “O amor é que move o sol e as estrelas”.

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