Editorial Além das ruas

Publicado em: 03/06/2019 03:00 Atualizado em: 03/06/2019 08:45

Em 15 dias, três manifestações tomaram ruas, avenidas e praças do país. Duas de estudantes e professores que protestaram contra o contingenciamento de verbas do Ministério da Educação. A outra, a favor das reformas, sobretudo a previdenciária, propostas pelo presidente da República.

Todas pacíficas e civilizadas, prova do amadurecimento da população — mais educada, graças ao acesso à escola, e mais politizada, consequência, em parte, da popularização das mídias sociais. Embora não necessariamente comprometida com o debate de ideias, a livre troca de mensagens contribui para chamar a atenção para os rumos da sociedade.

O que se viu na leva de brasileiros que se concentraram na defesa de uma causa é um povo vivo, atuante e atento. Classificá-lo de massa de manobra constitui miopia de quem, incapaz de fazer a leitura correta da mobilização, perde a oportunidade de dar a resposta adequada, que conduza a avanços, não a confrontos.

Jair Bolsonaro parece ter entendido o recado das ruas. Para atender as reivindicações, impunha-se ir além na pauta das reformas. Procurou os presidentes da Câmara e do Senado para firmar um pacto que deixasse as irrelevâncias em segundo plano e se fixasse no essencial. No caso, a aprovação das reformas.

A política se resolve com política. Claro que não será um caminho fácil, mas é o único possível. Numa democracia, imperam os pesos e contrapesos. Caneta — seja Bic, seja Mont Blanc — não tem o dom de solucionar diferenças e aplainar arestas. A Constituição delimita o papel de cada poder. Basta segui-la.

O ministro da Educação escolheu o caminho inverso ao percorrido pelo presidente. Partiu para a guerra. Atacou os professores acusando-os de coagir os alunos a participar do movimento e — pior — convocar os pais a apresentar provas contra os docentes. Esqueceu-se de duas verdades. Uma: os jovens sabem pensar, dispensam tutelas. A outra: os mestres são aliados do MEC, não inimigos.

Abraham Weintraub precisa arregaçar as mangas e dizer a que veio — apresentar um plano estratégico para a educação. Nas últimas décadas, houve conquistas na área. Mas ainda falta muito para torná-la contemporânea. O século 21 não tem lugar para escolas do século 19 com professores do século 20 e alunos do século 21.

Em vez da reação, Weintraub tem de dar a vez para a proposição. Deve convocar todas as forças para pôr a educação no topo da agenda. A qualidade é a meta. As medidas, de curto, médio e longo prazo, precisam vencer etapas de tal forma que, ao se convocarem outras mobilizações, os cartazes apresentem reivindicações novas.

Manifestações tornaram-se rotina no Brasil. Desde 2013, com mais ou menos intensidade, adultos e crianças saem de casa para, em uníssono, dizer o que querem ou o que não querem. É bom ouvi-los. Costuma-se dizer que a educação é ruim porque a sociedade deixa. Parece que o prazo de tolerância chegou ao fim. A paciência se esgotou.

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