Chico Buarque rompe o silêncio literário

Raimundo Carrero
Escritor e jornalista

Publicado em: 27/05/2019 03:00 Atualizado em: 26/05/2019 21:51

Tudo bem, o leitor tem todo o direito de contestar o prêmio, mas é preciso reconhecer que não é fácil para a literatura brasileira romper a cortina de silêncio que se fecha a cada momento para a literatura em língua portuguesa num mundo cada vez mais fechado em todos os níveis.

Mas Chico Buarque de Holanda, o sempre notável Chico Buarque de Holanda, ganhou o Prêmio Camões, patrocinado pelo governo Português e pelo governo brasileiro, para divulgar, justamente, aqueles autores que escrevem em língua portuguesa, com incrível reconhecimento no mundo inteiro.

Mas por ser patrocinado por estes dois governos – com dinheiro público, é claro – foi recusado há três anos pelo poeta e guerrilheiro angolano Laurentino Vieira. Assim, pode-se imaginar que é um prêmio muito contestado, sobretudo pelas gerações mais novas. Foi criado no governo Sarney e teve em Autran Dourado seu primeiro vencedor brasileiro. Premiação muito contestada no começo da década de 90.

A questão agora é saber se Chico vai receber o prêmio, até por causa de sua rigorosa  posição política. Seria razoável receber um prêmio que tem participação, em dinheiro, do governo que ele tanto critica e desconhece? Teremos que esperar ou isso se resolve logo? A palavra está com Chico, sempre muito hábil na solução dessas questões.

É preciso não esquecer que Chico foi o único intelectual brasileiro que apoiou Lula até o julgamento final, não abrindo mão de suas convicções políticas, coerentemente. Aliás, este é um traço definitivo do caráter deste grande compositor com sangue pernambucano. É  sempre correto e digno. De intensa lealdade e firmeza.

Talvez o prêmio lhe tenha sido concedido  até como provocação. Mesmo assim, o músico não é bobo. Deve estar avaliando bem cada gesto e cada palavra. Nos próximos dias deve anunciar a sua decisão e, qualquer que seja, terá completamente o meu apoio.

Em 1960 o filósofo Jean- Paul Sartre recusou o Prêmio Nobel, alegando motivações humanitárias e políticas. Mesmo assim, conforme se diz, pediu o Nobel na década de  70. Tudo isso está na balança neste momento delicado, sobretudo político.

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