A ficção literária e a realidade da vida

Roque de Brito Alves
Membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 22/05/2019 03:00 Atualizado em: 22/05/2019 08:49

1 – Afirma-se que a vida imita a arte, ou ao invés,  que a arte imita a vida, é um seu reflexo, existe uma união de ambas na nossa compreensão, não são inconciliáveis, são irmãs siamesas.

2 – Especificamente, podemos unir a ficção literária e a realidade da vida, com a primeira, em genial intuição, ao ter como objeto a natureza humana principalmente ao expor a sua maldade, os seus vícios, pecados e crimes em personagens que se tornaram imortais e modelos de comportamentos desumanos, criminosos. Tal intuição antecipou, em séculos, as análises científicas  da Psicologia, da Psiquiatria e da Criminologia do século 19 e também a  sua formulação jurídica da conduta humana a partir do citado século, como outra tese nossa. Assim, em relação a seu aspecto real, positivo com os denominados criminosos canibais, os assassinos em série e os homicidas sádicos sexuais reincidentes que são exemplos vivos dos personagens terríveis da ficção literária.  

3 – Na área da ficção literária, entendemos que podemos traçar uma linha contínua,  uma trajetória progressiva que pode unir, relacionar os autores em seu início desde os 3 (três) grandes trágicos gregos (Ésquilo, Sófocles  e Eurípedes) de 400 a 500 anos antes de Cristo até a Idade Média com Dante Alighieri (1265-1321), nos séculos 16 e 17 com William Shakespeare (1564-1616) e, no século 19 com Fiodor Dostoievski (1821-1881), e também a obra literária do Marquês de Sade, no século 18, com seus personagens como degenerados sexuais. Ficção literária unida ao expor a natureza ou a conduta humana mais em suas maldades que em suas virtudes ou em sua bondade, os aspectos sombrios da alma humana mais que os felizes ou nobres.

Personagens como Aaron (da tragédia Tito Andrônico de Shakespeare). Ricardo III, Macbeth (também de Shakespeare), Medeia, Raskolnikov etc., etc., são exemplos bem expressivos, incontestáveis desta nossa tese ou interpretação.

Já no plano da realidade da vida indicamos criminosos como Jack, o estripador (Inglaterra), Jeffreiy Dahmer (Estados Unidos, “ele não tinha consciência”), Chikatilo (Rússia, “fui um erro da natureza, devo ser executado”), Alexander Pichushqin (Ucrânia, “uma vida sem matar é como uma vida sem alimentar-se”), o casal West (da Inglaterra, “um cemitério em casa com as suas vítimas”), o “Chico Picadinho”, no Rio,  vítima esquartejada na mala, etc., etc.

4 – Em polo oposto, ao contrário, em nossa tese, indicamos a bondade da natureza humana que se encontra também na realidade da vida e na ficção literária, com a vitória da virtude sobre as paixões criminosas da alma.

Assim, na realidade citamos como exemplos inegáveis as vidas de São Francisco de Assis, de São Vicente de Paulo, de Madre Teresa de Calcutá,  e da Santa (agora reconhecida em maio) irmã Dulce de  Salvador, pois em tais santos o amor e a caridade com o próximo seguindo o Mandamento de Nosso Senhor Jesus Cristo foram os seus ideais e as suas obras.

A tal respeito, já no aspecto da ficção literária dos valores morais predominantes, citamos os escritores franceses dos séculos 16 e 17 ditos “moralistas” como Montaigne, La Bruyère, La Rochefoucauld, Pascal e o grande dramaturgo Pierre Corneille (1606-1684), em cujos pensamentos, máximas, ensaios e cenas teatrais a virtude, o dever ou os valores morais deveriam ser as características do ser ou da conduta humana.

Acima de tudo em nossa compreensão, o verso final da Divina Comédia de Dante: “O amor é que move o sol e as estrelas”.

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