Personagem e sistema

Patricia Gonçalves Tenório
Escritora, doutora em Escrita Criativa (PUCRS, 2018) e ministra o Curso de Extensão da Unicap Estudos em Escrita Criativa.

Publicado em: 03/05/2019 03:00 Atualizado em: 03/05/2019 08:14

No encontro de abril dos Estudos em Escrita Criativa na Unicap, tivemos a alegria e a honra de receber um dos pais da área no país, o escritor, romancista e meu orientador de doutorado Luiz Antonio de Assis Brasil.

Ele nos trouxe, lá do pampa gaúcho, o grande manual Escrever ficção, no qual aborda temas caros para quem deseja se aventurar pelas águas da literatura, navegar por seus segredos, descortinar o claro-escuro dos mistérios do bem-escrever.

Dois conceitos fundamentais que nos apresenta Assis Brasil: que o personagem é o principal em um romance, novela, conto. É a partir da sua questão essencial – não confundamos com perfil psicológico –, a dúvida em Hamlet, por exemplo, que todos os acontecimentos derivam e a história se compõe.

O segundo conceito é o de sistema orgânico. Tradicionalmente, se constrói um romance de maneira linear – início, meio e fim –, mas Assis Brasil nos apresenta o sistema orgânico, no qual é possível se escrever fora da ordem tradicional, e mesmo assim fazer sentido, os acontecimentos e personagens se relacionando como se fossem parte de um organismo complexo e conectado.

No nosso quarto encontro dos Estudos em maio, estudaremos dois autores do Leste europeu, nos quais aplicam-se esses conceitos de Assis Brasil: o tcheco Milan Kundera com A insustentável leveza do ser e A arte do romance, e a polonesa Prêmio Nobel de Literatura em 1996 Wislawa Szymborska com os seus Poemas. Além de trazermos dois jovens escritores que representam essa inquietação kafkiana, Arthur Telló (RS) e Geórgia Alves (PE).

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