Editorial Temperatura máxima na Venezuela

Publicado em: 24/01/2019 03:00 Atualizado em: 24/01/2019 08:55

A crise política da Venezuela atingiu o mais alto grau desde o início da semana, quando o Esquadrão Montado da Guarda Nacional se insurgiu contra a administração de Nicolás Maduro. A sublevação foi contida pela Força de Ações Especiais da Polícia Nacional Bolivariana. Mas, ontem, as ruas de Caracas foram tomadas por milhares de venezuelanos insatisfeitos com os sucessivos governos de Nicolás Maduro, cuja reeleição não foi reconhecida por vários países vizinhos, entre eles o Brasil. A Venezuela enfrenta uma crise econômica e política sem precedentes. Grande parte da população migra para países vizinhos em busca de alimentos e empregos, uma vez que a fome campeia pelo país.

O presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, do partido Voluntad Popular, de oposição, convocou o protesto. Diante de milhares de pessoas, ele se declarou presidente interino da Venezuela e recomendou a Maduro que renunciasse ao cargo. O gesto de Guaidó recebeu o apoio e o reconhecimento da Organização dos Estados Americanos (OEA), dos Estados Unidos, do Brasil, do Equador, do Peru, da Colômbia, da Argentina, do Chile, e do Canadá.

Donaldo Trump, presidente norte-americano, foi além. Avisou que, se Maduro apelar para o uso das Forças Armadas, ele tem um conjunto de opções à mesa, numa ameaça velada de que poderá revidar à reação militar do sucessor de Hugo Chávez. O Departamento de Estado norte-americano recomendou a Maduro que renuncie à Presidência.

Espera-se, no entanto, que a saída de Maduro se dê de forma tranquila, sem violência, pois o povo venezuelano não aguenta mais, está sofrendo demais. A situação é tão dramática, que milhares de pessoas deixam tudo para trás em busca de uma vida melhor, mesmo não sabendo o que encontrará nos países para os quais migram. Países vizinhos, inclusive o Brasil, enfrentam dificuldades com o êxodo de venezuelanos. Em Roraima, porta de entrada dos migrantes, a situação é de caos. Não é possível que esse quadro se estenda por muito mais tempo.

O povo venezuelano tem o direito de se livrar das mazelas impostas por Maduro. Ele, infelizmente, está protegido por Forças Armadas corruptas. A partir do momento, porém, que os militares perceberem que a condição do líder venezuelano é insustentável, certamente tenderão a abandoná-lo. Por pragmatismo. Vão se aliar às forças políticas que tomarem o poder. Os primeiros sinais de desembarque dos integrantes da caserna já apareceram. E se aliaram ao povo, que detém a soberania. Maduro deveria evitar o pior e aceitar, imediatamente, as condições que lhe estão sendo oferecidas para deixar o país.

A Venezuela pede socorro. Não há mais como o mundo fechar os olhos para a matança que está sendo comandada por um regime ditatorial, incapaz e corrupto. Os venezuelanos merecem ter de volta o bem-estar social e a perspectiva de um futuro melhor. Merecem recuperar o seu país.

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