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Pichações do Comando Vermelho alertam polícia na Zona Norte do Recife

No Alto José do Pinho, é fácil encontrar pichações com a sigla "CV" espalhadas por postes, muros, árvores e até fachadas de imóveis

Por Jorge Cosme

Pichação no Alto José do Pinho, no Recife.

Relatos, pichações e episódios recentes de violência têm preocupado a polícia sobre possível avanço da facção carioca Comando Vermelho (CV), uma das maiores organizações criminosas do país, na Zona Norte do Recife. Ante o cenário, a Secretaria de Defesa Social (SDS) determinou o aumento de patrulhamento na região.

No Alto José do Pinho, bairro com histórico de disputa por tráfico de drogas, é fácil encontrar pichações com a sigla “CV” espalhadas por postes, muros, árvores e até fachadas de imóveis. Imagens das pichações circulam em grupos e redes sociais de moradores do bairro, que evitam falar do tema.

Na semana passada, em 18 de setembro, a comunidade viveu uma madrugada de terror, quando um tiroteio deixou ao menos um ferido. Os tiros, que também atingiram casas e obrigaram moradores a se abaixar para evitar balas perdidas, teriam relação com confronto de facções que poderia ter relação com essa chegada. O episódio ocorreu nas proximidades do terminal de ônibus do bairro, onde há uma concentração das pichações de “CV”.

Logo no dia seguinte, a polícia prendeu no Alto José do Pinho um homem de 27 anos, suspeito de atuar como fornecedor de armas e munição para grupos criminosos do bairro. Em interrogatório, ao qual o Diario de Pernambuco teve acesso, ele declarou que existe uma guerra pelo tráfico na região e que o Comando Vermelho disputa o local – "inclusive com pichações".

Na ocasião, o suspeito foi flagrado em sua casa com três cartelas de munições de calibre .40, um carregador de pistola, uma balança de precisão e duas pequenas pedras de crack. A prisão foi realizada pela 5ª Delegacia de Polícia de Homicídios (DPH).

Circular

Conflitos semelhantes também têm sido registrados em bairros próximos, como no Alto José Bonifácio, Nova Descoberta e Vasco da Gama. Nesse último, o traficante Anderson Correia da Silva, conhecido como Bomba, de 33 anos, foi executado com mais de 20 tiros no último domingo (21).

Desde julho, uma mensagem apócrifa, atribuída apenas ao “Comando Vermelho”, circula no WhatsApp de moradores da Zona Norte.

Autointitulada “circular oficial”, o texto afirma que o CV “entrou na cidade para ficar” e convoca os criminosos de Nova Descoberta para "rasgar a camisa do errado" – termo usado pelas facções para “virar a casaca”.

"Estamos dando a oportunidade de nos procurar e unirmos forças contra este resto de covardes da G7 que ainda se encontra na região", diz um trecho da mensagem. O G7 é uma facção, liderada por um preso, com atuação naquele bairro e no Vasco da Gama.

"A toda população deixamos um abraço e que não se preocupem, pois nossa guerra é contra pilantras e não com trabalhador e pessoas de bem”, diz o comunicado, datado de 18 de julho. “Lembrando que qualquer pessoa que for identificada dando apoio a outro tipo de facção vai sofrer as consequências".

Alianças

Em condição de anonimato, fontes que atuam em investigações de tráfico de drogas dizem que a presença do CV é considerada nova na Zona Norte do Recife. Segundo afirmam, as forças de segurança têm empenhado estratégias para controlar a situação enquanto o avanço da facção “ainda está no início”.

De acordo com a Polícia Civil, a presença de pichações também não significaria que a capital pernambucana passou a abrigar lideranças do CV, que continuariam no Rio de Janeiro. Em contrapartida, foragidos de Pernambuco, que já atuam nesses bairros há longa data, estariam indo se esconder naquele estado.

Para os investigadores, essa dinâmica revelaria que os bandidos locais, na verdade, têm se aproximado da facção carioca – em uma espécie de “estágio” – e passado a dar ordens à distância.

“Considerando o Comando Vermelho como marca, dá para se dizer que está se instalando no Recife”, analisa um policial. “Mas, na prática, não muda nada, porque são as mesmas pessoas. Não vão mudar, por exemplo, a forma de traficar drogas porque agora são do Comando Vermelho”.

“Não há domínio de facções”

Em nota, a Secretaria de Defesa Social (SDS) afirma que não há registros de domínio de facções nacionais no Estado. "O que existe são disputas locais entre grupos de traficantes, que, por não serem produtores de drogas, adquirem entorpecentes de fornecedores em regiões do Sudeste e do Centro-Oeste, onde há presença de grandes facções", diz.

"Eventualmente, aqui em Pernambuco, há prisões de faccionados de organizações conhecidas nacionalmente, mas desde 2023 o estado mantém a política de isolamento desses presos no sistema prisional, impedindo que eles repassem ordens de dentro para fora", acrescenta a pasta.

A SDS afirma que os episódios de violência registrados na Zona Norte estão sob monitoramento, e que preserva o sigilo das informações em "prol da efetividade das ações realizadas pelas polícias". Informações dão conta que as pessoas associadas ao CV na região já foram identificadas.

Em nota, a SDS informa que reforçou o policiamento na localidade com unidades especializadas como Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), Radriopatrulha e Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (Rocam), além de ações de investigação da Polícia Civil.

Confira a nota da SDS na íntegra:

A Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS) informa que não há registros de domínio de facções nacionais no Estado. O que existe são disputas locais entre grupos de traficantes, que, por não serem produtores de drogas, adquirem entorpecentes de fornecedores em regiões do Sudeste e do Centro-Oeste, onde há presença de grandes facções. Eventualmente, aqui em Pernambuco, há prisões de faccionados de organizações conhecidas nacionalmente, mas desde 2023 o Estado mantém a política de isolamento desses presos no sistema prisional, impedindo que eles repassem ordens de dentro para fora.

Sobre o Alto José do Pinho, que integra a Área Integrada de Seguranca (AIS) -5, a SDS acompanha as ocorrências e reforçou o policiamento com unidades especializadas da Polícia Militar, como BOPE, Radiopatrulha e Rocam, além de ações de investigação da Polícia Civil, que atua por meio das Operações de Repressão Qualificada (ORQs). Essas operações são precedidas de meses de apuração, com autorização judicial, e têm desarticulado grupos responsáveis por tráfico de drogas e crimes correlatos, não só em Recife, mas em todo o Estado.

De forma permanente, as forças de segurança trabalham de forma integrada no enfrentamento ao crime organizado, com apoio de inteligência e operações conjuntas. Entre os destaques deste ano, estão a Operação Nordeste Integrado, que resultou em mais de 300 prisões em oito estados, e a instalação da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO) em Petrolina, fortalecendo a repressão às quadrilhas que tentam se expandir para o Nordeste por meio das rotas de armas e drogas.

A SDS reitera que mantém atenção constante às disputas entre grupos criminosos no Estado e atua para impedir a instalação de facções nacionais em Pernambuco. Ressaltamos ainda que os episódios registrados na Zona Norte estão sob investigação e monitoramento. A Secretaria também reforça que preserva o sigilo das informações em prol da efetividade das ações realizadas pelas polícias. Dessa forma, demais dados de inteligência referentes a grupos criminosos são utilizados exclusivamente para subsidiar investigações e ORQs.